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domingo, 28 de novembro de 2010

COMO ACABAR COM O TRÁFICO

Traficantes esgueirando-se às centenas, quiçá milhares, feito baratas pelos matos dos morros cariocas. Homens de bermudas, sem camisa, mas com fuzil AK nos ombros. Bandidos com capacidade de fogo suficiente para arremessar granadas em blindados.

Como é possível que sejam tantos e reúnam tamanho poder?

Simples: o poder vem da maior fonte de poder do mundo: do dinheiro.

E de onde vem esse dinheiro?

Óbvio: do comércio de drogas.

E uma última pergunta: por que o comércio de drogas é tão frutuoso?

Essa pergunta é decisiva. Afinal, não existem tantas pessoas que consomem drogas. A maioria, a IMENSA maioria, não consome drogas. No entanto, existem consumidores de drogas, é claro que existem, e eles são, quase todos, jovens que passam pela droga algumas vezes e a abandonam logo ali.

O que torna o tráfico lucrativo, portanto, não é o consumo massivo da droga: é a proibição da droga. A droga, tornada clandestina, não paga imposto, não assina carteira, nem tem controle de qualidade.

Se, de um dia para outro, o Estado proibir a venda de sabão, as pessoas ainda assim continuarão usando sabão, levando alguns a produzir sabão e outros tantos a vender sabão. O comércio do sabão continuará farto, embora proibido. Mas, proibido, não pagará nenhuma taxa, nenhum imposto, nada. Não terá nenhuma obrigação social. Os trabalhadores envolvidos na produção e na venda do sabão não terão direito a férias, décimo-terceiro, horas extras etc. E o dono da fábrica clandestina de sabão ficará rico, poderá comprar armas para enfrentar a polícia que tenta reprimir o tráfico de sabão. Terá tantos recursos que corromperá a própria polícia e a justiça para continuar vendendo o seu sabão.

Aí chega um legislador convincente e demove o Estado da proibição do sabão. A venda do sabão foi liberada! Agora, os produtores de sabão terão de montar uma sede legalizada, com recepcionista e pagamento de IPTU; terão de registrar seus trabalhadores e pagar-lhes os direitos exigidos pela lei; terão de pagar os impostos sobre a produção e a venda do sabão, o imposto de renda, os impostos sobre propriedade. Agora, os produtores de sabão não usam mais bermudas e nem ficam sem camisa: eles usam terno e gravata. Eles ganham muito menos. E pagam muito mais.

Pegue aquele traficante que se rasteja pelo morro de bermuda, sem camisa, mas com um AK nos ombros, troque seu fuzil por uma pasta de executivo, meta-lhe dentro de uma gravata, legalize-o e faça com que o sistema o absorva.

Pronto. Acabou a criminalidade.

Transformar a droga de um problema de segurança em um problema de saúde, esse é o caminho para acabar com a guerra urbana do tráfico.

Texto de David Coimbra, em seu blog!

Rafa

sábado, 9 de outubro de 2010

TIRIRICA DO BRASIL

O cidadão Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como Palhaço Tiririca, foi eleito como o deputado federal mais votado do País, com mais de um milhão de votos. No meio da semana, porém, o tribunal eleitoral de São Paulo questionou sua capacidade de ler e escrever. Quase todos os “letrados”, principalmente com manifestações nas redes sociais, acharam um absurdo a eleição do palhaço. Sim, é absurdo, mas quem menos culpa tem nesse processo é o próprio deputado eleito.

Primeiro, porque foi a campanha mais honesta que eu já vi. Se fizermos uma pesquisa rápida, ainda que empírica, entre todos os candidatos, incluindo aí alguns eleitos, perguntando aos mesmos se sabem o que faz um deputado federal, será enorme o número de respostas afirmando desconhecer a tarefa. Tiririca, pelo menos, teve a honestidade de dizer que não sabia. Quem votou nele, portanto, sabia muito bem disso. E os que votaram nos candidatos que não sabem, mas não falaram nada? Honesto, também, porque disse em alto e bom tom que, se eleito, ajudaria muita gente, a começar por ele mesmo e sua família. Do mesmo jeito, quantos não pensam dessa forma, porém não falam?

Seus detratores, infelizmente, são incapazes de criticar os partidos políticos, os magistrados e a elite que, por mais letrada que seja, não consegue se mobilizar para sequer propor uma reforma política que iniba esse tipo de candidatura, ou que acuse seus problemas (no caso o analfabetismo do candidato) antes das eleições, porque, se configurar mesmo o crime, pelo menos um milhão de pessoas terá, literalmente, perdido seus votos.

E os analfabetos políticos, muitos deles eleitos ou reeleitos, não teriam também que passar por um teste sobre seus conhecimentos políticos? E aposto que muitos seriam reprovados. Por fim, não podemos esquecer que os Estados Unidos elegeram George Bush, a Itália elegeu Silvio Berlusconi, e olhem bem alguns eleitos em Santa Catarina. Entre estes, mil vezes o palhaço original.

Coluna de Fábio Brüggemann, no DC de hoje.

Rafa

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um prêmio que envergonha uma nação

Minha falecida mãezinha – cujo doce espírito deve estar neste exato momento sentado ao meu lado, lendo estas mal traçadas linhas – sempre dizia que “o pior cego é aquele que não quer ver o que acontece ao seu redor”. Estas sábias palavras ecoam na minha cabeça depois de assistir a uma das mais patéticas atrações televisivas dos últimos tempos.

Certa vez, escrevi aqui mesmo no Yahoo! Brasil um texto chamado “Prêmios não servem para nada”, mas tenho que admitir que mudei de opinião depois de assistir às grotescas cenas ocorridas durante aquilo que deveria ser um dos maiores eventos da música brasileira – o Prêmio Multishow 2010 – que ocorreu na semana passada. A julgar por aquilo que vi ali, um prêmio também serve para envergonhar um País inteiro.

A começar por uma série de inacreditáveis falhas de organização, dignas de um show de quermesse de oitava categoria. “Patético” talvez seja o melhor adjetivo que posso encontrar para definir o evento, um verdadeiro antro de felicidade de plástico, exibicionismo canhestro, premiações absurdas e o que é pior: um retrato límpido e cristalino do que chamamos hoje de “juventude televisiva”.

É isso o que dá organizar uma premiação em que o vencedor é escolhido pelo público. Sem nenhum controle, o resultado é baseado na ação tresloucada dos fãs clubes, formados em sua maioria por débeis mentais que passam semanas inteiras votando em seus objetos de paixão, até ficarem com o dedo em carne viva de tanto teclar no telefone. Imagine o desespero dos pais na hora que chega a conta… Isso sem contar o fato de que certos artistas contratam empresas especializadas em fazer o serviço das ligações – como você acha que certos zé-manés e pseudoartistas ganham os reality shows da vida?

Mesmo o telespectador normal, que só ouve música quando toca na rádio ou quando assiste a um desses programas dominicais, ficou incrédulo, perguntando a si mesmo se realmente foram aquelas pessoas que se destacaram na música brasileira nos últimos dois anos.

O constrangimento começava com a dupla de apresentadores, Bruno Mazzeo e Fernanda Torres, que aparentavam estar com uma enorme vontade de estarem longe dali, talvez em uma sessão de teatro ou até mesmo em um churrasco. Fernanda chegou ao cúmulo da desatenção ao chamar ao palco para receber um prêmio artistas que, na verdade, ganhariam em outras categorias até então não anunciadas. Além disso, ignorou a presença do saxofonista de Ivete Sangalo no palco. Veja o vídeo:


O músico estava ali para representar a cantora baiana no recebimento de um prêmio – até mesmo Ivete sacou que seria uma “roubada” participar desta presepada –, mas Fernanda ratou de chamar logo os próximos convidados, talvez ansiosa por sair dali o mais rápido possível.

Já Bruno Mazzeo anunciou uma apresentação de Claudia Leitte e Victor & Leo sem que os cantores estivessem prontos para entrar em cena, o que o levou a improvisar um ridículo stand up comedy ao vivo – se bem que ouvir a versão que a cantora e a dupla fizeram de “Pais e Filhos”, da Legião Urbana, foi um troço muito pior. E os Titãs, então, que foram “homenageados” na cerimônia por uma banda de mulheres que começou a tocar sem que a vocalista escalada, Maria Gadu, estivesse no palco? Uma bagunça total!

Nem vou perder o meu tempo – e desperdiçar o seu – comentando sobre os disparates nas premiações, representadas por um troféu horroroso, que mais parecia um halter de plástico, que a produção deve ter comprado aos quilos nas “lojinhas de R$ 1,99” espalhadas por qualquer capital, mas… Olha, premiar Rodrigo Tavares, o baixista do Fresno, como “Melhor Instrumentista”, foi um escárnio tão grande que mesmo o ganhador se sentiu envergonhado com a escolha. Foi o mesmo que dar o prêmio de “Melhor Carnívoro” a uma capivara… E ver um manifesto clássico como “I Love Rock and Roll”, da Joan Jett, ser massacrado pelos caras do Cine junto com uma tal de Lu Alone. Deu vontade de sair por aí recolhendo todas as giletes do meu bairro, tão preocupado fiquei com um possível surto de suicídios coletivos.

A verdade é que há tempos tais premiações se transformaram em um balaio de gente que só faz “tipinho” em frente às câmeras – embora alguns também façam o mesmo na vida real, o que é ainda mais ridículo. É o tipo de coisa que só encontra eco em cérebros desmiolados, que ainda se impressionam com o “mesmo de sempre”, que passam grande parte de suas medíocres vidas a sentar suas bundas gordas e flácidas na frente da TV ou do computador e receber doses maciças de imbecilidade.

Ainda bem que você não é assim, né? Não é? Hein?

o título e o post são de autoria de Regis Tadeu, colunista do Yahoo! Brasil

thunder

sábado, 28 de agosto de 2010

MUITO ANTES DOS DINOSSAUROS

Há pouco menos de 14 bilhões de anos tudo no universo era praticamente nada. Um pontinho, só, e muito, muito menor do que este que ora pingarei: . Então, toda aquela energia concentrada, por algum motivo, CATABLOM!, explodiu. Era o Big Bang. As coisas estavam começando.

Passaram-se 9 bilhões de anos, um pouco mais. Aí foi a vez de uma supernova explodir na Via Láctea. Uma das lascas dessa supernova transformou-se em uma estrela de estatura mediana, o Sol. Isso aconteceu há quatro bilhões e 600 milhões de anos. Pelas estimativas dos cientistas, o Sol continuará ardendo por mais cinco bilhões e 400 milhões de anos. Depois, como todo o resto do Universo, esfriará. Quando o Sol se apagar, a vida por aqui ficará meio difícil, prepare-se, compre velas.

Após a criação do Sol, transcorreram alguns milhões de anos. Côsa pôca, como se diz no Alegrete. E a Terra surgiu de um daqueles pedaços de estrela que andavam pelo espaço. No princípio, não era um bom lugar para se morar. Não havia chão, nem água. O planeta todo era uma bola de fogo e lava borbulhante. Com todo aquele calor, a água não se condensava. Permanecia na atmosfera, em forma de nuvens de vapor. O tempo prosseguiu assim, horrível, por uns 500 milhões de anos. Aí piorou. Como a Terra esfriou um pouquinho, começou a chover. Quando chove um fim de semana, a gente se irrita, não é? Imagine que naquela época choveu durante MILHÕES de anos. Tempestades violentas, elétricas, paredes d’água desabando e formando, enfim, os oceanos. Ao mesmo tempo, as placas de terra recém-constituídas se moviam, liberando gases das entranhas do planeta de forma extremamente ruidosa, fenômeno que os cientistas, demonstrando todo o seu bom gosto, chamam de “O Grande Arroto”.

Enquanto isso tudo acontecia, a Terra foi esfriando e assim a crosta da superfície aos poucos se solidificou. As rochas mais antigas foram descobertas na Groenlândia. Elas têm 3,8 bilhões de anos de idade. Por essa época, raios duplos, raios triplos, mil vezes raios desabavam nos jovens oceanos. As descargas elétricas causaram uma reação inesperada naquela sopa química primeva: deram origem às primeiras formas de vida. Não faz muito, os cientistas identificaram um fóssil de bactéria com 3,5 bilhões de anos.

A partir desse ponto, as bactérias tomaram conta da Terra. Não havia um milímetro quadrado que não estivesse completamente coberto de bactérias pegajosas, um nojo. Mas foram essas bactérias que fixaram no ar elementos indispensáveis a outras formas de vida. Por outros bilhões de anos elas fermentaram e se reproduziram, até que, deste processo, surgiram as plantas pioneiras. O mundo vegetal é jovem: tem 460 milhões de anos.

Agora, tudo foi mais rápido. Há 250 milhões de anos, o mundo inteiro estava coberto de samambaias gigantes, maiores do que árvores, impossíveis de se acomodar em um vaso na sala. Mais ou menos por esse tempo, os animais marinhos deram um jeito de subir à terra firme. O primeiro deles, o número 1, foi o querido… tatuzinho! Olhe para um deles na areia na próxima vez que você for a Pinhal. Era assim o seu tataratataratataratataratataratataratataratataravô.

Os peixes eram os donos da Terra, portanto. Você já viu um peixe transando? É assim: a peixa nada para algum lugar e deposita ali os seus óvulos, um monte deles. Aí o peixo nada até lá, deita o esperma em cima dos óvulos e vai embora. Pronto. Fim. Consummatum est. É por isso que não existe nenhum canal de sacanagem de peixe na TV a cabo.

Quando os anfíbios evoluíram e se tornaram répteis é que os machos resolveram depositar o esperma dentro da fêmea, e não fora. Graças aos répteis, pois, a Humanidade criou calcinhas de rendinha, o conjunto minissaias & botas, toda a teoria psicanalítica de Freud e as tatuagens da Megan Fox.

Os répteis evoluíram tanto, aqueles serelepes, que se transformaram nos dinossauros e tomaram conta do mundo. Mas há 65 milhões de anos um meteoro de 200 quilômetros de largura caiu no México, tirou a Terra do eixo e os dinos se extinguiram. A essa altura, Pangeia, que era o único bloco de terra do planeta, já havia se rompido. Os continentes estavam separados irremediavelmente e nós fomos condenados a ir para a Europa de avião.

O primeiro hominídeo foi dar as caras no planeta há 4,5 milhões de anos. O homo erectus há 1,8 milhões de anos. E a nossa atual forma humana, o homo sapiens, há 150 mil anos. Destes, 140 mil anos foram de caça, coleta e nomadismo. A Civilização existe há 10 mil anos, nada mais. O Brasil há 510. Porto Alegre há menos de 300. O Campeonato Brasileiro começou em 1971. O sistema de pontos corridos desde 2003.

Pense nisso tudo. Pense nessa grande história. Pense em perspectiva. Que importância tem se um time for rebaixado em 2010?

Texto do excelente David Coimbra, direto de seu blog!

Rafa

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PELO FIM DA PRODUTIVIDADE

Mas palavra feia mesmo é produtividade. Sempre que um economista fala em “crescimento” eu coloco as mãos nos bolsos. Não, não é metáfora de descansar e assistir a banda passar, mas para ver se os minguados centavos que carrego cresceram mesmo.

Esse papinho aí de economia é mais metafísico que qualquer novela de reencarnação. O fato de o produto interno bruto (ainda que eu nunca tenha visto um “produtointernobrutômetro” na vida) aumentar ou reduzir é muito café pequeno para a conversa que todo político esquece na hora de prever o crescimento ou medir a tal “produtividade”, que é a distribuição dessa renda toda.

Por que essa turma não fala que crescer demais também tem suas mazelas? Aliás, quer saber, tem muito mais danos que lucros. Estamos tão acostumados com a cultura protestante, aqui no sul principalmente, e a do colono trabalhador católico, que nem vive de tanto trabalhar, baseada na moral escravocrata do trabalho, que nem nos damos contas que já está mais do que na hora de parar de crescer e distribuir de vez.

A ideia de que devemos consumir para crescer é o que está nos matando. Há tempos morreu o Homo Sapiens, e no lugar dele nasceu o Homo Shopins. Portanto, chega, não queiram me vender mais nada, parem com essa mania insana de achar que preciso de coisas.

Meu aparelho celular faz e recebe e está bom assim. Meu carro tem onze anos de idade e chega em qualquer lugar que uma Ferrari também chega. Minhas roupas estão puídas mas ainda me protegem do frio. Portanto, economistas, políticos, publicitários, trabalhadores do meu Brasil varonil, eu quero apenas pegar um sol, tomar meu mate, namorar e ler um livro.

E isto está bem bom. E por favor, distribuam essa riqueza enorme que tem por aí, porque vocês não podem levar pra baixo da terra quando a indesejada das gentes chegar.


Texto extraído do blog de Fábio Brüggemann


Rafa

sábado, 26 de junho de 2010

E O GUARDA-CHUVA?

Já contei essa história várias vezes. Ela trata de fé, coisa rara, raríssima. É tão difícil encontrar uma pessoa de fé numa igreja quanto um dinossauro soltando fogo pelas narinas ali na esquina, tão difícil quanto. As pessoas dizem que têm fé, têm coisa nenhuma, se tivessem não viveriam como vivem.

A tal história que já contei várias vezes surgiu-me de novo, mas de um modo diferente. Vou contá-la desse modo.

Conta essa história que um padre estava a receber centenas de fiéis numa missa onde os tais fiéis pediam chuva. Fazia uma seca danada, não havia mais plantações, terra rachada, água escassa, uma tragédia. E todos na comunidade, não vendo outra solução, optaram por pedir chuva em oração. E lá estavam todos na igreja, rezando, pedindo que chovesse.

A certa altura da missa, o padre interrompeu o sermão e questionou a todos:

— Vocês não vieram pedir por chuva em oração? Pois muito bem, e onde estão, então, os guarda-chuvas?

Ninguém tinha levado guarda-chuva.

O sentido dessa história é fazer ver as pessoas que quem tem fé já sai de casa com o guarda-chuva debaixo do braço, sabe que vai chover, afinal, orou por isso…

Que nada, as pessoas não têm uma nesga de fé que seja. Tanto é verdade que aí estão as promessas, as oferendas, as “chantagens” com os santos, com Deus. Ou você já não ouviu alguém prometer uma vela à santinha se for atendido numa graça pedida? Por que não acende a vela antes, não a vela do pedido, mas a vela do agradecimento. Quem agradece antes de receber tem fé. Depois, não tem… As pessoas não creem nem nos santos aos quais oram…

O que me incomoda é essa fé verbal das pessoas, dizem-se de fé, vão à igreja, fazem o sinal da cruz, cruzinha diante dos lábios, bobagens, uma infinidade de bobagens.

Quem crê em Deus, e tem que ser em Deus, vive na paz, vive no bem, pensa no bem, age no bem, é pessoa confiável. Apresente-me, leitora, por favor, uma pessoa dessas que vou sugerir à produção do Faustão para uma entrevista.

O ser humano, no fundo, no fundo, sabe que vive no vazio, que tudo foi “inventado” por ele mesmo, mas esquece que dentro de cada um de nós todos há um formidável poder, o poder da fé em si mesmo. O mais é figuração de ficcionistas…

Coluna extraída do blog de Luiz Carlos Prates, 24/06/10.

Rafa

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Hora de mudar o comando

Estava em um workshop de uma pessoa muito, muito fantástica. Mestre no yoga em que pratico, o guru veio dos Estados Unidos para trabalhar a parte física da atividade, mas acabava falando de muitas outras coisas, até sobre as mais banais e comuns.

Em um momento, a conversa era sobre o acelerador de partículas. O convidado disse que o ser humano estava tentando forçar a natureza a entregar os seus segredos, e que seria um grande engano pensar que chegaríamos a um "Deus" através da tecnologia. O máximo que vamos conseguir serão mais perguntas, afirmou. Por último, completou com duas frases, que transcrevo mais ou menos fiéis.

"Com certeza (o acelerador) foi idéia de um homem (o sexo)"
"O mundo só vai melhorar quando as mulheres tomarem de volta o controle"

Olhando para o mundo, é triste como as mulheres são subjugadas. Desde a infância são determinadas a exercer o "papel feminino". As brincadeiras, as proibições, os costumes; todos levam a esse controle inconsciente. Exemplo básico: propagandas de produtos de limpeza. Ache uma em que o ator não seja mulher.

Talvez o guru esteja certo. É fato que a mulher é diferente do homem. E talvez esteja realmente na hora de elas pararam de ser o sexo frágil. Então, talvez, não precisemos de aceleradores de prótons, pelo menos não com os propósitos que temos hoje.

Bernardo Staut

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O maior picles do Brasil

Li a frase que dá título a esse texto na entrevista de um amigo. O assunto era política, mais especificamente o Paraná. Como não estava presente na hora, não consegui saber o que significava. Tirei uma interpretação: picles são vegetais (?) que são colocados geralmente em alimentos calóricos e considerados pela maioria como deliciosos, como sanduíches do McDonalds. Mas, paradoxalmente, apesar de estarem lá naquela comida maravilhosa, são odiados, esquecidos e considerados irrelevantes. Até porque o principal é o queijo, a carne e o molho.

Se o Brasil fosse uma grande lanchonete, possivelmente os três ingredientes principais seriam São Paulo, Rio de Janeio e Brasília. O Paraná estaria lá, faria parte do pedido principal, mas não valeria como sedutor.

Deixando as metáforas alimentares de lado, vamos falar do que deveria importar. Hoje aconteceu a manifestação contra a corrupção no estado, organizada por diversas entidades, na Boca Maldita. Ela é uma extensão do que começou com os Diários Secretos, assunto que eu comentei na última postagem.

Além do protesto, apresentou-se também um projeto de lei elaborado pela Associação Paranaense dos Juízes Federais (Apajufe), com o apoio da seção estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), que pretende dar mais transparência aos assuntos políticos.

Para mim é incrível que na gelada cidade de Curitiba, milhares de pessoas tenham se aglomerado para protestar. Lembro aqui que no final da postagem passada eu perguntava "E agora?". O começo aconteceu. O próximo passo é não deixar o assunto morrer, e, claro, não votar nos envolvidos. Talvez até votar nulo em tudo, por quê não?

Saiba mais sobre o assunto clicando aqui

Bernardo Staut

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os diários secretos

Parece até nome de filme: "Os diários secretos". Aliás, a trama realmente rende uma empreitada cinematográfica.

Para quem não sabe, ou não acompanhou por completo, a RPC começou em março o especial Diários Secretos, que expõe a rede de corrupção formada por funcionários fantasmas. Tive a oportunidade de participar de uma palestra com três dos principais jornalistas do caso.

A história realmente é de cinema. O trabalho, que durou mais de dois anos, começou com denúncias esparsas, que indicaram o caminho. Os diários oficiais são compilações de todas as movimentações de trabalho e dinheiro da Assembléia do estado, e supostamente deveriam ser de acesso público. A questão é que havia diários avulsos, impressos em datas diversas, onde os deputados colocavam nomes de pessoas contratadas sem que essas realmente existissem.

O esquema rendia em torno de 1 milhão por semana. Para quebrar isso, diversas micro-câmeras foram usadas pelos jornalistas, para gravar declarações de funcionários fantasmas, que em alguns casos ganhavam 100 ou 200 reais para emprestar o nome ao político.

Até o diretor-geral da Assembléia, Abib Miguel, o Bibinho, está preso, há 36 dias - fato raro na política. Herdeiro do estilo de Anibal Cury, ele era responsável pelas movimentações financeiras do local, sendo o possível comandante da rede.

E agora? Esperamos eles montarem um novo método?

Bernardo Staut


sábado, 29 de maio de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

O fato se passa em Florianópolis, mas a veracidade das ideias do autor pode ser transportada para todos os municípios brasileiros.

Quem não pula quer tarifa

A primeira impressão que tive ao acompanhar as manifestações que estudantes estão fazendo desde que os preços das passagens aumentaram na Ilha foi lembrar-me das tantas passeatas que participei quando era estudante. A segunda foi pensar no motivo pelo qual apenas estudantes estavam na passeata. A terceira foi perceber que tem muito, mas muito mesmo, policial na Ilha. Ao contrário da sensação de segurança que seria normal ter diante de tantos homens e mulheres armados, tive foi é muito medo. Ôpa, alguma coisa aqui está errada, porque se eu pago bastante imposto para ter segurança, e quando me deparo com a sua represetnação fico com medo, é sinal de que a ordem das coisas está mudando.

Só mesmo um incauto não entenderia que o aparato policial, ideologicamente, não foi criado para dar segurança aos que o sustentam, mas, pelo contrário, para dar segurança ao próprio Estado, principalmente contra aqueles que o contestam. Se a polícia existisse mesmo para nos dar segurança ela daria, estaria nas ruas, teria postos policiais em cada esquina de cada bairro (e não é mais desculpa dizer que não tem contingente, porque eu vi), mas não tem. Ela aparece apenas quando o Estado sente-se ameaçado, quando o Estado não tem mais inteligência para argumentar, e quando ele nos rouba, seja em tarifaços, seja ajudando empresas amigas, seja superfaturando obras, seja, enfim, nos sacaneando nas multas de trânsito ou nos altos salários dos políticos e cargos comissionados.

Mais de 4 mil pessoas gritavam “quem não pula quer tarifa”, pedindo para que a população (afinal, só estudante pega ônibus?) descesse dos prédios e engrossasse a passeata. Mas adultos são medrosos, preferem ser vilipendiados pelo Estado a dar a cara numa passeata, prefere ficar em casa assistindo novela a não reclamar da falta de policiais quando mais precisa, porque quando seu carro é roubado, quando sua casa é roubada, quando matam seu parente, ainda colocam a culpa no ladrão. Mas os ladrões de verdade estão protegidos pela lei que eles mesmos criaram e ainda têm a polícia para protegê-los de nós.

Fábio Brüggemann, no DC de hoje.

Rafa

segunda-feira, 24 de maio de 2010

À parte

"O bar em frente ao grande depósito de lixo. A televisão de dez polegadas com sinal fraco. O campo de futebol recentemente reformado. O balanço amarrado no topo da árvore no meio da rua. Esses são alguns exemplos das distrações e do lazer que os moradores da Vila das Torres e Vila Prado consomem todos os dias."

Assim é a abertura da matéria que fiz no sábado passado, na Vila Torres (antigamente conhecida como Vila Pinto) e Prado. Ela faz parte de uma série de reportagens para o jornal laboratório da faculdade apenas sobre as vilas, que são separadas por um rio, próximas a Avenida das Torres.

Tradicionalmente, os bolsões de miséria das cidades entram nas coberturas jornalísticas apenas para contagem de mortos e registro de crimes. Dificilmente você pode encontrar uma visão mais simples, do cotidiano, como a diversão, tema da minha matéria. Esse ressentimento com os jornalistas pode ser sentido no contato da população da vila, que no geral não se abre muito para falar. Fora as figuras centrais, que lutam por direitos, como os presidentes das associações e os religiosos, poucos se dispõe a fazer grandes comentários.

Temas como tráfico e tratamentos desumanos são deixados de lado. Afinal, não são raras as represálias. Apenas cultivando uma amizade com os moradores é possível descobrir os fatos que todos sabem, mas poucos comentam. Um dos mais comuns são os carrinheiros que moram nos "puxadinhos". Trabalhando para grandes depósitos coletores de lixo, eles vivem uma escravidão moderna, já que habitam os depósitos, vivendo em condições precárias, em troca da coleta de lixo.

Andando pela vila, é fácil identificar todos os problemas. A falta de saneamento, de asfalto, de condições básicas de sobrevivência. Os catadores de lixo explorados, os tiros para o alto dos traficantes, as brigas de gangues e o abuso da autoridade policial, está tudo lá, fácil de ser visto. Se olhos de cidadãos comuns podem ver isso, me pergunto, assim como um dos moradores comentou, porque eles são esquecidos?

Bernardo Staut

domingo, 23 de maio de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

SAÚDE MENTAL

Acabo de saber da existência de um filósofo grego chamado Alcméon, que viveu no século 6 antes de Cristo, e que certa vez disse que saúde é o equilíbrio de forças contraditórias.

O psicanalista Paulo Sergio Guedes, nosso contemporâneo, reforça a mesma teoria em seu novo livro (A Paixão, Caminhos & Descaminhos, em que ele discute os fundamentos da psicanálise). Escreve Guedes: “A saúde constitui sempre um estado de equilíbrio instável de forças, enquanto a doença traz em si a ilusória sensação de estabilidade e permanência”.

Não sei se entendi direito, mas me pareceu coerente. O sujeito de boa cuca não é aquele que pensa de forma militarizada. Não é o que nunca se contradiz. Não é o cara regido apenas pela lógica e que se agarra firmemente em suas verdades imutáveis. Esse, claro, é o doente.

Do nascimento à morte há uma longa estrada a ser percorrida. Para atravessá-la, recebemos uma certa munição no reduto familiar, mas nem sempre é a munição que precisávamos: em vez de nos darem conhecimento, nos deram regras rígidas. Em vez de nos ofertarem arte, nos deram apenas futebol e novela. Em vez de nos estimularem a reverenciar a paixão e o encantamento, nos adestraram para ter medo. E lá vamos nós, vestidos com essa camisa de força emocional, encarar os dias em total estado de insegurança, desprotegidos para uma guerra que começa já dentro da própria cabeça.

Armados até os dentes contra qualquer instabilidade, como gozar a vida?

A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum.

Dá medo, no início. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.

Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegida apenas pela consciência que tem de si mesma e do que a cerca – o universo todo, incerto e mágico.

Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. O sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um pensamento único, sem se movimentar.

Já o sadio baila sobre o precipício.

Martha Medeiros, na Zero Hora de hoje.

Rafa

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sem criatividade

Só quem já sentou nesse outro lado sabe como é díficil a vida de alguém que escreve. Pego como exemplo o colunista, com o seu dia fixo para publicar o texto. Anda pelas ruas vendo milhares de assuntos, conhece personalidades que dariam um romance inteiro, situações que renderiam longas análises...mas não é assim tão fácil.

Há sempre a dúvida do que é realmente interessante. O colunista traz um caráter muito pessoal, escolhendo algo que ache válido para expor aos leitores. Mas algumas vezes é possível sentir o peso de ficar dando opiniões e comentando situações, como se 1500 caracteres fossem suficientes para explicar algo.

E não é apenas esse fardo. Carregamos também o velho "macaco" dos artistas: a criatividade. Quem trabalha com escrita, arte e música sabe como é complicado sair da roda da normalidade.

Ontem, durante uma aula de música passei por essa situação. "Vamos improvisar agora", disse o professor. Só três palavras e o corpo já tensiona, a respiração muda, e a imaginação fica tentando criar algo, que, ironicamente, só vai surgir se o corpo estiver no outro oposto, relaxado e focado.

Passo por isso agora, mas em menor escala. O que escrever para o blog? Hoje a própria falta de criatividade me indicou o assunto. Semana que vem tento fugir da roda novamente.

Bernardo Staut

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Agir local

Acho engraçado como certas coisas sempre carregaram o estigma de fúteis e desnecessárias. Um dos exemplo mais fáceis é a moda. Não que eu vá fazer uma defesa dela, até porque não sou um seguidor. Mas acredito que, como muitas outras coisas da vida, pode-se olhar por outro lado e encontrar um novo significado.

No caso do "vestir-se", é possível enxergar por um lado artístico. Usando determinadas roupas e enfeites passamos uma aura de algum estado emocional, histórico e pessoal. Culturas específicas sempre tiveram seus próprios costumes nas roupas, desde as tribos indígenas até as sociedades modernas ocidentais.

Acredito que o problema real está no sentido que você dá ao seu consumo. Até porque, a crítica do consumismo pode ser estendida para vários modelos, como carros, móveis, e até livros (afinal, porque você compra certos artigos culturais novos se eles podem ser encontrados usados?).

Cansei de ver indíviduos cheios de críticas a certos consumos, mas que em sua vida pessoal também nutrem esse comportamento, direcionado para segmentos menos criticados. Reclamavam sobre alguém que gastou 40 reais em uma camiseta, mas gastavam 60 reais em um dia se embebedando, enquanto exaltavam as qualidades negativas do consumo.

Como disse, vejo a solução na motivação que o leva a consumir. Atentando para isso, certamente certos hábitos vão aos poucos se extinguindo, já que perdem o sentido. Agir no extremo do localismo - ou seja, você mesmo -, reduzindo gostos que talvez sejam sem sentido, pode muito bem ser melhor do que tentar agir coletivamente, almejando mudar hábitos do todo.

Bernardo Staut

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Glamourizando estilos de vida

Axl Rose costumava demorar até três horas para entrar no palco. Iggy Pop costumava quebrar garrafas no palco, durante o show, e rolar sobre os cacos sem camiseta. Slash teve que instalar um marca-passo no coração devido aos abusos de drogas e álcool. John Bohan morreu afogado no próprio vômito...

A lista continua indefinidamente. É possível citar Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix, e até os recentes Peter Steele, e o ainda vivo, mas impossibilitado de beber devido a uma cirrose, Zakk Wylde. A pergunta, que acho válida, é porquê?

Porque a música e as artes sempre foram associadas à excessos? Parece que há uma certa "aura" sobre os artistas, que seduz todos os seres considerados normais. Afinal, todo jovem fã de rock já se imaginou no lugar de Keith Richards ou Lemmy Kilmister. A impressão que passam é de que aproveitam a vida.

Mas engraçado, várias vezes já me deparei com declarações de músicos afirmando que essa vida de sexo, drogas e rock cansa. E que no fim eles apenas queriam uma casa, uma família e uma tv no domingo, de preferência sem precisar ser em um volume alto, para encobrir o ruído nos ouvidos.

Antes de imaginar como a vida dos famosos é divertida, procuro olhar como também é tediosa. Talvez o "aproveitar a vida" não esteja fora, nas festas, nos lugares, nas viagens, nas loucuras, nas pessoas. Talvez esteja apenas em como se enxerga os fatos da vida. Fazer seu trabalho "normal" de forma consciente e alegre pode, possivelmente, dar a mesma sensação de aproveitamento que um rockstar tem em um show. Não pode?

Bernardo Staut

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Woodstock tupiniquim

Qualquer um aqui, independente da idade, já ouviu falar sobre Woodstock. Marco da contra-cultura, na efervescente década de 60, foi o auge do movimento hippie, assim como o início de sua decadência.

Apesar das discrepâncias com relação ao número de pessoas presentes, o certo é que havia muita, muita gente. Supostamente, a maioria estava ali pelos ideais de paz, amor livre, sexo e, não se pode tirar da lista, drogas. Do que vi e ouvi do evento, os presentes relamente estavam nessa sintonia.

Agora, 41 anos depois, surge o tal do Woodstock no Brasil. Dizem os boatos que bandas como Pearl Jam, Rage Against The Machine e até Bob Dylan já confirmaram presença. Independente de quem vem, parece que o evento realmente vai tomar corpo.

Tenho dois pés atrás. Um devido à experiência de 1994, quando houve a tentativa de fazer um outro Woodstock, que teve a lama como ponto mais próximo do "pai". As bandas que tocaram não representavam os ideiais, e os presentes...bem, os presentes se jogaram na lama.

O segundo pé atrás vem nessa linha. Pelos comentários que ouço, acho que as pessoas não compreendem que a sintonia não é mais a mesma. Apesar de ser uma ótima fase, de retorno à visão ambientalista e pacifista, o mundo não é mais o mesmo. Se jogar na lama e fazer sexo no evento não é mais chocante. É, nas palavras dos neo-hippies, a entrada na era de Aquário. Isso significa ação, e não mais apenas cantar canções de amor.

Bernardo Staut

sexta-feira, 23 de abril de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

Sem retoque algum, do texto e da minha concordância com David.

Ricardo Amorim e os metrôs da China

Sabe quantos metrôs estão sendo construídos na China neste momento? Não estações de metrô, não linhas de metrô, mas sistemas inteiros, labirintos subterrâneos cavados sob cidades com mais de 5 milhões de habitantes, sabe quantos?

Oitenta.

Munido dessa informação, tente calcular quanto ferro os chineses terão de empregar em seus 80 novos sistemas de metrô. Toda uma Grande Muralha talvez pudesse ser erguida com esse ferro, não é mesmo?

Bem. Agora pense em quem vai fornecer o ferro para os chineses. Quem é o segundo maior produtor de ferro do mundo, abaixo, exatamente, da própria China?

É. O Brasil.

Tais informações, as colhi na palestra do Ricardo Amorim, proferida durante o feriado, no Plaza. Ricardo Amorim, você sabe, além de percuciente integrante da bancada do Manhattan Connection, foi um dos raros economistas a prever o estouro da crise mundial do ano passado.

Foi o que me levou ao Plaza. E não me decepcionei. A palestra foi recheada de conteúdo, valeu cada real da inscrição.

Ao apresentar dados como o número de metrôs em construção na China, Ricardo Amorim mostrou que, a partir da entrada dos chineses no comércio mundial, no ano 2000, o Brasil passou a crescer e não parou mais. Porque o Brasil tem o que os chineses querem: comida e matéria-prima, como o ferro das estruturas dos metrôs. Continuará crescendo enquanto os chineses estiverem consumindo, e isso vai durar largo tempo. Os índices do país também continuarão melhorando: mais emprego e, consequentemente, menos criminalidade; mais recursos para investir em infraestrutura; mais gente vivendo melhor; mais popularidade para o presidente. Tudo muito alvissareiro.

Houve apenas um setor que permaneceu intocado, na ampla análise do Ricardo Amorim: a educação básica. Ricardo Amorim não tocou no tema da educação básica porque neste tema ninguém toca por aqui. Há investimento em universidades e escolas técnicas, há investimento em usinas de energia, há investimento em pesquisa, tecnologia e transporte. Para as crianças, não há nada.

Lembro do velho Leonel Brizola na eleição de 1989. Repetia Brizola, com aquela sua fala cantada:

– As crianças... temos que salvar as crianças...

Vinte anos se passaram e, desde então, só ouvi um político falar nas crianças. Justamente um discípulo de Brizola, Cristovam Buarque. Quando ministro da Educação, Cristovam Buarque queria tratar do assunto com Lula. Não conseguia audiência. Reclamou:

– Presidente, só consigo falar com o senhor se calçar tênis e for jogar bola.

Lula rebateu:

– Se você não gosta de usar tênis, jogue descalço.

Buarque pediu demissão, candidatou-se a presidente e angariou fama de sujeito exótico, que só falava em educação. E assim tem sido. Você não ouve ninguém falar em educação básica, mas ouve o Ricardo Amorim e fica entusiasmado. O Brasil vai ganhar dinheiro com o pré-sal, o Brasil vai ganhar dinheiro vendendo a indianos e chineses, muita gente vai ganhar dinheiro no Brasil. Que bom. Haverá mais gente para dar esmola às crianças sujas debaixo dos semáforos do Brasil.

Coluna do estimadíssimo David Coimbra de hoje, na Zero Hora.

Rafa

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quando o brega chega à elite

Nesse fim de semana, durante um jantar com alguns amigos, surgiu o assunto das modas antigas, principalmente as musicais. Qualquer maior de idade por aqui passou pela fase do techno (e das festinhas americanas), pela do pagode, e consequentemente pela atual do sertanejo. Aliás, não só sertanejo. O termo recebeu também a alcunha de "universitário", já que toca em qualquer festa de faculdade ou pretensora de ser jovem.

E hoje, lendo a Gazeta do Povo, me deparo com uma matéria sobre o tal do estilo musical. Já na abertura o tema é bem resumido. Comenta-se como há cinco anos atrás qualquer um que andasse pelos bares de chapéu, cinto largo e bota seria chamado de brega. O estilo musical do sujeito já estava implícito: música caipira.

Agora, cinco anos depois, até as madames de curitiba se renderam à Woods e artistas como Fernando 'Sorocaba', um dos "gurus" do meio. Problema agora tornou-se não gostar do ex-difamado.

Gostos musicais a parte, o grande problema, para mim, é essa modernização da música, no sentido de que vem rápido, vende muito, e some pouco tempo depois. Foi assim com o pagode, e vai ser assim com o sertanejo. Então as louras que iam nos bares country para ver gente bonita (como está nas declarações da reportagem do jornal), vão ter que trocar as roupas do armário e as músicas do Ipod. Gostos musicais a parte, fico com os meus. Estranhos, ultrapassados e algumas vezes desconhecidos. Mas verdadeiros e significativos.

Bernardo Staut

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Depois do problema, a tentativa

Acredito que todos estão acompanhando o que está acontecendo no Rio de Janeiro, ou pelo menos já ouviram falar o mínimo sobre o assunto. Desde Dezembro do ano passado já morreram 256 pessoas devido às chuvas, e mais corpos continuam a ser encontrados.

Agora, após o caos, o governador do estado autorizou a remoção de 8 comunidades das áreas de risco. A idéia inicial é pagar uma quantia de 400 reais para que as famílias retiradas possam morar em outro local, enquanto as novas habitações não são construídas.

Há quem seja contra uma maior presença do Estado na vida das pessoas. No meu modo de encarar, prefiro o relativismo, analisar cada tipo de tentativa. Claro que a fama ruim do assistencialismo veio de políticas que não fizeram nada mais do que entregar algo que não agregue nada a longo prazo, apenas satisfazendo um curto período (até as novas eleições). Mas nesse caso, acredito que a política, se cumprida de modo adequado, até demorou demais pra acontecer. Ao invés de um vale-celular, estará se entregando uma base para o futuro.

Passando a palavra para quem entende do assunto, o presidente do Movimento Popular de Favelas (MPF), William Oliveira, que é também ex-presidente da Associação de Moradores da Rocinha: “Eu sou nascido e criado na Rocinha e moro há 38 anos nesta favela. Muita gente vai me criticar, mas posso dizer que, se os governantes tivessem tido mão de ferro para fazer remoções, essas tragédias não ocorreriam”.

Bernardo Staut

quarta-feira, 7 de abril de 2010

(Uma das) profissões mais ingratas

Acompanho pouco o futebol. Sempre gostei de jogar, e até de torcer, mas moderadamente e sem nenhum tipo de fanatismo. Acho que é possível contar nos dedos a quantidade de vezes que fui a um estádio.

Apesar dissso, venho notando uma série de falhas muito bem "zoadas" pela mídia especializada, daqueles que deveriam ser os últimos a falhar: os goleiros. Até o semi-deus Rogério Ceni não foi poupado, recebendo um bom número de agulhadas devido a certos gols não muito apreciados pelos torcedores do São Paulo.

Escrevo sobre isso pois tenho conhecimento de causa: sempre joguei como goleiro. E talvez eu me arrependa até hoje de ter feito essa escolha. Afinal, o último homem é sempre esquecido, não possui nome próprio (é sempre "o goleiro"), leva porradas tanto da bola quanto dos atacantes, e tem sempre aquele peso na consciência dizendo que caso ele leve um gol ridículo todos vão se dedicar a comentar por muito tempo.Se não bastasse tudo, até no futebol profissional eles não são lá muito valorizados. Qual goleiro ganha prêmios? Há apenas algumas excessões.

Fica aqui o manifesto em defesa dessa profissão, e também uma sugestão para aqueles que ainda pretendem se aventurar com luvas e roupas compridas: saiam de baixo das traves e virem atacantes.

Bernardo Staut