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sábado, 28 de agosto de 2010

MUITO ANTES DOS DINOSSAUROS

Há pouco menos de 14 bilhões de anos tudo no universo era praticamente nada. Um pontinho, só, e muito, muito menor do que este que ora pingarei: . Então, toda aquela energia concentrada, por algum motivo, CATABLOM!, explodiu. Era o Big Bang. As coisas estavam começando.

Passaram-se 9 bilhões de anos, um pouco mais. Aí foi a vez de uma supernova explodir na Via Láctea. Uma das lascas dessa supernova transformou-se em uma estrela de estatura mediana, o Sol. Isso aconteceu há quatro bilhões e 600 milhões de anos. Pelas estimativas dos cientistas, o Sol continuará ardendo por mais cinco bilhões e 400 milhões de anos. Depois, como todo o resto do Universo, esfriará. Quando o Sol se apagar, a vida por aqui ficará meio difícil, prepare-se, compre velas.

Após a criação do Sol, transcorreram alguns milhões de anos. Côsa pôca, como se diz no Alegrete. E a Terra surgiu de um daqueles pedaços de estrela que andavam pelo espaço. No princípio, não era um bom lugar para se morar. Não havia chão, nem água. O planeta todo era uma bola de fogo e lava borbulhante. Com todo aquele calor, a água não se condensava. Permanecia na atmosfera, em forma de nuvens de vapor. O tempo prosseguiu assim, horrível, por uns 500 milhões de anos. Aí piorou. Como a Terra esfriou um pouquinho, começou a chover. Quando chove um fim de semana, a gente se irrita, não é? Imagine que naquela época choveu durante MILHÕES de anos. Tempestades violentas, elétricas, paredes d’água desabando e formando, enfim, os oceanos. Ao mesmo tempo, as placas de terra recém-constituídas se moviam, liberando gases das entranhas do planeta de forma extremamente ruidosa, fenômeno que os cientistas, demonstrando todo o seu bom gosto, chamam de “O Grande Arroto”.

Enquanto isso tudo acontecia, a Terra foi esfriando e assim a crosta da superfície aos poucos se solidificou. As rochas mais antigas foram descobertas na Groenlândia. Elas têm 3,8 bilhões de anos de idade. Por essa época, raios duplos, raios triplos, mil vezes raios desabavam nos jovens oceanos. As descargas elétricas causaram uma reação inesperada naquela sopa química primeva: deram origem às primeiras formas de vida. Não faz muito, os cientistas identificaram um fóssil de bactéria com 3,5 bilhões de anos.

A partir desse ponto, as bactérias tomaram conta da Terra. Não havia um milímetro quadrado que não estivesse completamente coberto de bactérias pegajosas, um nojo. Mas foram essas bactérias que fixaram no ar elementos indispensáveis a outras formas de vida. Por outros bilhões de anos elas fermentaram e se reproduziram, até que, deste processo, surgiram as plantas pioneiras. O mundo vegetal é jovem: tem 460 milhões de anos.

Agora, tudo foi mais rápido. Há 250 milhões de anos, o mundo inteiro estava coberto de samambaias gigantes, maiores do que árvores, impossíveis de se acomodar em um vaso na sala. Mais ou menos por esse tempo, os animais marinhos deram um jeito de subir à terra firme. O primeiro deles, o número 1, foi o querido… tatuzinho! Olhe para um deles na areia na próxima vez que você for a Pinhal. Era assim o seu tataratataratataratataratataratataratataratataravô.

Os peixes eram os donos da Terra, portanto. Você já viu um peixe transando? É assim: a peixa nada para algum lugar e deposita ali os seus óvulos, um monte deles. Aí o peixo nada até lá, deita o esperma em cima dos óvulos e vai embora. Pronto. Fim. Consummatum est. É por isso que não existe nenhum canal de sacanagem de peixe na TV a cabo.

Quando os anfíbios evoluíram e se tornaram répteis é que os machos resolveram depositar o esperma dentro da fêmea, e não fora. Graças aos répteis, pois, a Humanidade criou calcinhas de rendinha, o conjunto minissaias & botas, toda a teoria psicanalítica de Freud e as tatuagens da Megan Fox.

Os répteis evoluíram tanto, aqueles serelepes, que se transformaram nos dinossauros e tomaram conta do mundo. Mas há 65 milhões de anos um meteoro de 200 quilômetros de largura caiu no México, tirou a Terra do eixo e os dinos se extinguiram. A essa altura, Pangeia, que era o único bloco de terra do planeta, já havia se rompido. Os continentes estavam separados irremediavelmente e nós fomos condenados a ir para a Europa de avião.

O primeiro hominídeo foi dar as caras no planeta há 4,5 milhões de anos. O homo erectus há 1,8 milhões de anos. E a nossa atual forma humana, o homo sapiens, há 150 mil anos. Destes, 140 mil anos foram de caça, coleta e nomadismo. A Civilização existe há 10 mil anos, nada mais. O Brasil há 510. Porto Alegre há menos de 300. O Campeonato Brasileiro começou em 1971. O sistema de pontos corridos desde 2003.

Pense nisso tudo. Pense nessa grande história. Pense em perspectiva. Que importância tem se um time for rebaixado em 2010?

Texto do excelente David Coimbra, direto de seu blog!

Rafa

domingo, 22 de agosto de 2010

AVÔ INDIGNADO!

Protesto!

Desde quando avô tem pulga na cueca?

Existe uma campanha para revisar as letras de canções infantis que vêm sendo cantadas há anos sem que os responsáveis pelas crianças se deem conta do seu conteúdo. O caso mais notório é o do gato atingido por um pau, que não morre, como era a intenção de quem atirou o pau, mas dá um berro que faz dona Chica dimirar-se-se e presume-se foge da cena, traumatizado. Sabe-se pouco sobre a origem da canção e a história por trás da sua letra. Atirar um pau num gato pode ser uma ação preventiva (ninguém sabe o que o gato iria fazer com a dona Chica) ou a manifestação precoce de um instinto assassino na criança, que deve receber orientação psicológica antes de ter acesso a armas mais sofisticadas. De qualquer maneira, a canção revela um perturbador descaso pelos sentimentos de outro ser, por mais antipático ou atrevido que este seja, e por mais pelos que solte nos sofás, e é um péssimo exemplo para mentes ainda em formação.

A canção Atirei um Pau no Gato sobreviveu sem ser examinada todos esses anos porque nenhum gato pode protestar. Como representante da espécie, farei o possível para que o mesmo não aconteça com outro animal de sangue quente rotineiramente vitimado por impropérios e projéteis verbais mais contundentes do que paus, em canções infantis. Refiro-me aos avôs. Na condição de neo-avô, tenho tido contato frequente com essas tentativas de ridicularizar a categoria, fomentando o desrespeito à autoridade e o escárnio aos mais velhos e ameaçando o tecido social e os valores tradicionais da família.

Basta um exemplo do que se escuta por aí, muitas vezes cantado por crianças que mal começam a falar e só repetem o que ouvem:

Eu vi uma barata na careca do vovô e quando ela me viu bateu asas e voou.

Notem a insídia mal disfarçada pela singeleza do verso. Em primeiro lugar, a sugestão de que todo avô é, por definição, careca. Mesmo os que, como eu, ainda têm mais de 17 fios na cabeça e portanto não ultrapassaram o limite oficial da calvície. Outra sugestão infamante é a de que o vovô, de tão desleixado e/ou alienado, não notaria a presença de baratas passeando pela sua cabeça. Que dependeria de netos que fizessem voar as baratas para não dar vexame em ocasiões sociais e não ouvir piadas na rua sobre sua higiene pessoal e sua sanidade. Ainda somos perfeitamente capazes de detectar baratas na nossa própria cabeça e enxotá-las com nossos próprios meios!

Mas há mais. Uma versão agravada da mesma letra leva o desrespeito às raias da injúria. Segundo esta versão, localizou-se uma pulga na cueca do vovô, o vovô deu um pum e a pulga desmaiou. O vovô deu um pum e a pulga desmaiou! Desde quando avô tem pulga na cueca? Desde quando avô dá pum? A que ponto chegamos, quando se recorre até a flatulência hipotética para denegrir aquele que deveria ser apenas objeto de veneração? Em nome da classe, protesto.

Verissimo, no ZeroHora de hoje

Rafaela

sábado, 5 de junho de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

Sons que confortam

O choro na sala de parto, o primeiro “eu te amo”, o barulho forte da chuva quando você está no quentinho da sua cama...

Eram quatro da manhã quando seu pai sofreu um colapso cardíaco. Só estavam os três na casa: o pai, a mãe e ele, um garoto de 13 anos. Chamaram o médico da família. E aguardaram. E aguardaram. E aguardaram. Até que o garoto escutou um barulho lá fora. É ele que conta, hoje, adulto: Nunca na vida ouvira um som mais lindo, mais calmante, do que os pneus daquele carro amassando as folhas de outono empilhadas junto ao meio-fio.

Inesquecível, para o menino, foi ouvir o som do carro do médico se aproximando, o homem que salvaria seu pai. Na mesma hora em que li esse relato, imaginei um sem-número de sons que nos confortam. A começar pelo choro na sala de parto. Seu filho nasceu. E o mais aliviante para pais que possuem adolescentes baladeiros: o barulho da chave abrindo a fechadura da porta. Seu filho voltou.

E pode parecer mórbido para uns, masoquismo para outros, mas há quem mate a saudade assim: ouvindo pela enésima vez o recado na secretária eletrônica de alguém que já morreu.

Deixando a categoria dos sons magnânimos para a dos sons cotidianos: a voz no alto-falante do aeroporto dizendo que a aeronave já se encontra em solo e o embarque será feito dentro de poucos minutos.

O sinal, dentro do teatro, avisando que as luzes serão apagadas e o espetáculo irá começar.

O telefone tocando exatamente no horário que se espera, conforme o combinado. Até a musiquinha que antecede a chamada a cobrar pode ser bem-vinda, se for grande a ansiedade para se falar com alguém distante.

O barulho da chuva forte no meio da madrugada, quando você está no quentinho da sua cama.

Uma conversa em outro idioma na mesa ao lado da sua, provocando a falsa sensação de que você está viajando, de férias em algum lugar estrangeiro. E estando em algum lugar estrangeiro, ouvir o seu idioma natal sendo falado por alguém que passou, fazendo você lembrar que o mundo não é tão vasto assim.

O toque do interfone quando se aguarda ansiosamente a chegada do namorado. Ou mesmo a chegada da pizza.

O aviso sonoro de que entrou um torpedo no seu celular.

A sirene da fábrica anunciando o fim de mais um dia de trabalho.

O sinal da hora do recreio.

A música que você mais gosta tocando no rádio do carro. Aumente o volume.

O aplauso depois que você, nervoso, falou em público para dezenas de desconhecidos.

O primeiro eu te amo dito por quem você também começou a amar.

E o mais raro de todos: o silêncio absoluto.

Martha Medeiros, no Zero Hora de amanhã, que como bom jornal de domingo, fica pronto no sábado de tarde e traz notícias de sexta...

thunder

domingo, 23 de maio de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

SAÚDE MENTAL

Acabo de saber da existência de um filósofo grego chamado Alcméon, que viveu no século 6 antes de Cristo, e que certa vez disse que saúde é o equilíbrio de forças contraditórias.

O psicanalista Paulo Sergio Guedes, nosso contemporâneo, reforça a mesma teoria em seu novo livro (A Paixão, Caminhos & Descaminhos, em que ele discute os fundamentos da psicanálise). Escreve Guedes: “A saúde constitui sempre um estado de equilíbrio instável de forças, enquanto a doença traz em si a ilusória sensação de estabilidade e permanência”.

Não sei se entendi direito, mas me pareceu coerente. O sujeito de boa cuca não é aquele que pensa de forma militarizada. Não é o que nunca se contradiz. Não é o cara regido apenas pela lógica e que se agarra firmemente em suas verdades imutáveis. Esse, claro, é o doente.

Do nascimento à morte há uma longa estrada a ser percorrida. Para atravessá-la, recebemos uma certa munição no reduto familiar, mas nem sempre é a munição que precisávamos: em vez de nos darem conhecimento, nos deram regras rígidas. Em vez de nos ofertarem arte, nos deram apenas futebol e novela. Em vez de nos estimularem a reverenciar a paixão e o encantamento, nos adestraram para ter medo. E lá vamos nós, vestidos com essa camisa de força emocional, encarar os dias em total estado de insegurança, desprotegidos para uma guerra que começa já dentro da própria cabeça.

Armados até os dentes contra qualquer instabilidade, como gozar a vida?

A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum.

Dá medo, no início. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.

Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegida apenas pela consciência que tem de si mesma e do que a cerca – o universo todo, incerto e mágico.

Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. O sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um pensamento único, sem se movimentar.

Já o sadio baila sobre o precipício.

Martha Medeiros, na Zero Hora de hoje.

Rafa

sexta-feira, 23 de abril de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

Sem retoque algum, do texto e da minha concordância com David.

Ricardo Amorim e os metrôs da China

Sabe quantos metrôs estão sendo construídos na China neste momento? Não estações de metrô, não linhas de metrô, mas sistemas inteiros, labirintos subterrâneos cavados sob cidades com mais de 5 milhões de habitantes, sabe quantos?

Oitenta.

Munido dessa informação, tente calcular quanto ferro os chineses terão de empregar em seus 80 novos sistemas de metrô. Toda uma Grande Muralha talvez pudesse ser erguida com esse ferro, não é mesmo?

Bem. Agora pense em quem vai fornecer o ferro para os chineses. Quem é o segundo maior produtor de ferro do mundo, abaixo, exatamente, da própria China?

É. O Brasil.

Tais informações, as colhi na palestra do Ricardo Amorim, proferida durante o feriado, no Plaza. Ricardo Amorim, você sabe, além de percuciente integrante da bancada do Manhattan Connection, foi um dos raros economistas a prever o estouro da crise mundial do ano passado.

Foi o que me levou ao Plaza. E não me decepcionei. A palestra foi recheada de conteúdo, valeu cada real da inscrição.

Ao apresentar dados como o número de metrôs em construção na China, Ricardo Amorim mostrou que, a partir da entrada dos chineses no comércio mundial, no ano 2000, o Brasil passou a crescer e não parou mais. Porque o Brasil tem o que os chineses querem: comida e matéria-prima, como o ferro das estruturas dos metrôs. Continuará crescendo enquanto os chineses estiverem consumindo, e isso vai durar largo tempo. Os índices do país também continuarão melhorando: mais emprego e, consequentemente, menos criminalidade; mais recursos para investir em infraestrutura; mais gente vivendo melhor; mais popularidade para o presidente. Tudo muito alvissareiro.

Houve apenas um setor que permaneceu intocado, na ampla análise do Ricardo Amorim: a educação básica. Ricardo Amorim não tocou no tema da educação básica porque neste tema ninguém toca por aqui. Há investimento em universidades e escolas técnicas, há investimento em usinas de energia, há investimento em pesquisa, tecnologia e transporte. Para as crianças, não há nada.

Lembro do velho Leonel Brizola na eleição de 1989. Repetia Brizola, com aquela sua fala cantada:

– As crianças... temos que salvar as crianças...

Vinte anos se passaram e, desde então, só ouvi um político falar nas crianças. Justamente um discípulo de Brizola, Cristovam Buarque. Quando ministro da Educação, Cristovam Buarque queria tratar do assunto com Lula. Não conseguia audiência. Reclamou:

– Presidente, só consigo falar com o senhor se calçar tênis e for jogar bola.

Lula rebateu:

– Se você não gosta de usar tênis, jogue descalço.

Buarque pediu demissão, candidatou-se a presidente e angariou fama de sujeito exótico, que só falava em educação. E assim tem sido. Você não ouve ninguém falar em educação básica, mas ouve o Ricardo Amorim e fica entusiasmado. O Brasil vai ganhar dinheiro com o pré-sal, o Brasil vai ganhar dinheiro vendendo a indianos e chineses, muita gente vai ganhar dinheiro no Brasil. Que bom. Haverá mais gente para dar esmola às crianças sujas debaixo dos semáforos do Brasil.

Coluna do estimadíssimo David Coimbra de hoje, na Zero Hora.

Rafa

quinta-feira, 1 de abril de 2010

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

Essa seção bem poderia ser mais do que o título "Colunistas que Recomendamos" representa. Com escritos do nível do texto abaixo, poderia tranquilamente ser titulada de "Fale por Mim, com muito mais classe e requinte". Afinal, falo de Luis Fernando Veríssimo.

O último círculo

Certos fatos são como os círculos concêntricos que se formam quando a proverbial pedra cai no proverbial lago. Têm um significado imediato e têm as conotações que se alastram, com significados cada vez maiores. Essa questão dos padres pedófilos, por exemplo. No seu centro, há o drama individual de um homem e sua compulsão doentia, e das suas vítimas. O significado seguinte é o da condição antinatural do homem, obrigado ao celibato ou condenado à hipocrisia, que se vale da presunção de inocência que o voto de castidade lhe dá para praticar seu vício. Outro significado maior é o do poder que a religião tem sobre seus fiéis, para o bem ou para o mal, expressa na imagem do pastor guiando seu rebanho, mas sem nenhuma garantia do caráter do pastor. E, se você quiser continuar seguindo esses círculos sucessivos de implicações, fatalmente chegará à neurose sobre o sexo que está na base de toda ideia de clausura e renúncia às tentações da carne, e – o círculo seguinte – na base da nossa civilização. A demonização do sexo e a misoginia são constantes da cultura judaico-cristã e o islamismo não fica atrás, com suas regras de abstinência e sua sonegação à vista pública de qualquer parte do corpo feminino. O celibato protege o padre do contágio do mal pelo contato com a mulher, descendente de Eva, a primeira desencaminhadora. Os padres pedófilos, com sua preferência por meninos, poderiam muito bem alegar que sucumbiram a demônios menores.

O último dos círculos irradiados tem a ver com a Igreja e seus costumes, como a demora em reconhecer seus erros. Entre o acobertamento e a omissão, a hierarquia da Igreja tem muito a ver com os crimes praticados por seus sacerdotes, que destruíram a vida de tanta gente. Mas nada disto afetará sua majestade. Ela sobreviveu à Inquisição, à perseguição aos judeus, à resistência obscurantista a todas as revelações da ciência e à cumplicidade com tiranos, e pediu desculpas. Ainda hoje dita o comportamento sexual de milhões de pessoas, apesar da sua posição retrógrada na questão dos anticoncepcionais, mas um dia pedirá desculpas por isto também. E pela sua responsabilidade nas vidas destruídas. O que é eterno não precisa ter pressa.

Zero Hora de hoje.

Rafa

sábado, 13 de fevereiro de 2010

ETIMOLOGIA E MITOLOGIA

Mesmo quem desconhece a mitologia clássica praticamente não passará um dia de sua vida sem fazer várias referências a ela. Nosso idioma está repleto de palavras vindas do Grego e do Latim que evocam aquela notável tapeçaria de mitos e lendas que era a religião dos gregos e romanos; seus deuses, heróis e criaturas fantásticas atravessaram três mil anos e continuam presentes no léxico da maioria das língua ocidentais, muitas vezes escondidos em palavras com que convivemos inocentemente.

Quem que não enxerga essas relações simplesmente não sabe o que está perdendo, pois é sempre fascinante descobrir as histórias escondidas por trás de palavras aparentemente comuns. Por acaso nossa língua não fica mais interessante quando sabemos que o mês de janeiro tem esse nome porque era consagrado a Janus, um deus que tinha duas faces e que podia, portanto, olhar ao mesmo tempo o ano que terminava e o que estava começando? Ou que um museu é um prédio dedicado às Musas, divindades que presidiam as artes e o conhecimento? Ou que o cachorro do camundongo Mickey, o Pluto, tem o nome de um deus romano, em homenagem ao qual também foi batizado o controvertido planeta Plutão?

Néctar e ambrosia – Os deuses do Olimpo não consumiam os mesmos alimentos que os humanos, mas satisfaziam-se com duas substâncias imortais, inexistentes no mundo aqui de baixo: comiam a perfumada ambrosia e bebiam o néctar, uma bebida especial e revigorante. Ninguém sabe como era e que gosto tinha a lendária ambrosia – isto é, ninguém exceto a espertíssima Emília, personagem de Monteiro Lobato, que deu um jeito de roubar uma provinha numa das viagens que a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo fez à Grécia antiga; hoje a ambrosia desceu do Olimpo e tornou-se o nome trivial de um dos doces caseiros mais conhecidos da culinária luso-brasileira. Quanto ao néctar, cujo sabor original sempre será um mistério para nós, passou a ser usado para designar o suco concentrado das frutas ou o líquido que as abelhas colhem das flores para o fabrico do mel. De vez em quando ainda é empregado por pessoas sem imaginação como uma forma de elogiar um vinho ou um licor, no surrado lugar-comum “É um néctar dos deuses!” – felizmente esquecido no sótão das expressões abandonadas, na mesma prateleira empoeirada em que jazem “É de arromba!” ou “É da pontinha!”.

Atlas – Atlas era um dos titãs que lutou contra Zeus pelo controle do Olimpo. Derrotado, Zeus o condenou a ficar sustentando o céu sobre os ombros, mantendo-o assim separado da terra. Como os mitos gregos se relacionam uns com os outros, acabou acontecendo que Perseu expôs o pobre Atlas ao olhar petrificante da Medusa, transformando-o na cadeia de montanhas do mesmo nome, no norte da África. Quando o famoso cartógrafo Mercator, no século 16, colocou na capa de sua coleção de cartas geográficas a figura de Atlas com o globo terrestre nas costas, este nome associou-se para sempre a qualquer volume que contenha uma coleção de mapas.

Hipnotismo – Na Grécia, Hipnos era o deus do sono (chamado de Somnus, em Roma), que era o pai de Morfeu, o deus dos sonhos. Seu nome foi usado para designar aquele estado de sonolência que está associado à hipnose e, não por acaso, os medicamentos que induzem o sono são também denominados de hipnóticos. O nome de seu filho, por sua vez, está presente no radical de morfina.

Pânico – Este vocábulo vem de Pan, aquele deus híbrido com pequenos chifres na cabeça e com corpo de bode da cintura para baixo, que vivia nos bosques e nos campos correndo alegremente atrás das ninfas. Os gregos atribuíam a ele a forte sensação de medo que acometia os que passavam por lugares desertos, em que o menor ruído poderia indicar que o deus estava ali à espreita. Hoje o termo indica aquele medo incontrolável e irracional que às vezes nos ataca e nos invade com uma vontade irresistível de fugir. Esse sentimento difuso tinha uma variante feminina, a ninfolepsia, uma espécie de excitação frenética que se apossava de todo aquele que, em algum lugar isolado, numa hora morta, via-se rodeado pelas ninfas, mocinhas danadas e sensuais.

Sirene – O nome é uma variação de sereia, monstruosa ave com cabeça de mulher que Homero descreve na Odisseia. As sereias viviam numa pequena ilha no meio do mar e usavam seu canto para atrair os navegantes, para devorá-los. Só bem mais tarde a mitologia celta imortalizou a figura popular da sereia boazinha, metade mulher, metade peixe, bem diferente das terríveis criaturas que Ulisses enfrentou. Em Inglês, o mesmo termo siren é usado para a entidade mitológica e para o som agudo e estridente das ambulâncias e viaturas policiais.

Cláudio Moreno, na Zero Hora de hoje

Rafa

terça-feira, 20 de outubro de 2009

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

Enem e Nêmese

Os gregos antigos não podiam sequer imaginar um mundo em que os limites não estivessem bem definidos. Para eles, a desmedida e o excesso levavam o indivíduo ou um povo inteiro à ruína e à destruição, e não é por acaso que a literatura e a mitologia grega estejam repletas de personagens que foram implacavelmente punidos por seus delírios de grandeza. Esta preocupação com o autocontrole aparece, por exemplo, no mito de Dédalo, que fabricou um par de asas para que Ícaro, seu filho, pudesse voar. Como pai, e como grego, aconselhou-o a manter-se a meia altura, numa distância prudente tanto do Sol quanto do mar; o jovem, no entanto, embriagado pela nova sensação, tentou subir o mais alto possível: o calor derreteu a cera, as asas se desmancharam no ar e Ícaro encontrou seu fim lá embaixo, na profundeza do oceano.

Para viver feliz, o homem tinha de reconhecer que havia uma ordem natural nas coisas que se sobrepunha ao orgulho dos indivíduos; aqueles que transgrediam esta ordem com sua soberba e arrogância acabavam atraindo sobre si a vingança de Nêmese, a inflexível divindade encarregada de recolocar tudo em seus justos limites. Isso explica a forma que os gregos escolheram para comemorar a vitória sobre os persas em 490 a.C.: convencidos de que nada deteria o seu avanço, os exércitos invasores tinham trazido, com grande dificuldade, um imenso bloco do inconfundível mármore de Paros, com o qual pretendiam erguer um monumento no dia em que a Grécia caísse diante do Império Persa. Na batalha de Maratona, no entanto, foram fragorosamente derrotados pelos atenienses, que aproveitaram o mesmo bloco para que Fídias, o mais famoso escultor de Atenas, fizesse uma grande estátua desta deusa exatamente no lugar em que a louca confiança dos persas tinha finalmente encontrado o seu limite.

Infelizmente o que sobrava na Grécia anda fazendo muita falta aqui na Pindorama. Alguns obscuros funcionários do MEC, burocratas pedagogos (ou vice-versa, o que não melhora em nada a mistura) perderam qualquer senso de medida e convenceram o inexperiente ministro Haddad a embarcar na aventura do Enem. Embriagados pela presunção, sentindo-se pairar muito acima dos simples mortais, não tiveram a prudência mínima de ouvir, com o respeito merecido, a opinião das universidades sérias que o Brasil já tem – bem afinados, aliás, com o espírito geral deste governo, que acredita, em seu delírio, que nossa História começou com ele. O fracasso da primeira prova deveria ter sido suficiente para que entendessem o quanto este plano é absurdo, mas nada disso aconteceu. Um grego antigo diria que esta insistência é loucura. Os soldados do grande Império Persa fugiram com o rabo entre as pernas; nosso ministro, no entanto, ainda não entendeu o aviso de Nêmese.

Por Cláudio Moreno, na Zero Hora de hoje.

Rafa

domingo, 2 de agosto de 2009

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

SATURAÇÃO

Não aguento mais esses caras. Todos eles. Precisávamos fazer alguma coisa. Nós precisávamos. Nós, que digo, somos nós contribuintes, eleitores, trabalhadores. Nós “povo”. Para começar, vamos extinguir o Senado. Podemos fazer isso.

Direi como.

Antes, faz-se necessário sublinhar que o Senado não é o único culpado pela minha saturação, que, suponho, seja a nossa saturação. A culpa cai sobre o Legislativo inteiro, do vereador verdureiro de um povoado do Tocantins ao nababo que se elegeu deputado federal por São Paulo a golpes de euros. Os parlamentares, enfim, eles com suas barganhas espúrias, com suas viagens de turismo patrocinadas pelas burras do Estado. Com sua demagogia.

Mas não só os parlamentares. O Executivo também. Sobretudo o governo federal, que intumesce os quadros do funcionalismo para se eternizar no poder, que tolera e acalenta corruptos, que faz caridade com o dinheiro dos impostos. E também o governo estadual, com suas escolas de lata. E o municipal, com sua letargia crônica.

O Judiciário, ainda que seja menos devassável, não é menos reprovável, com seus palácios de mármore e seu nepotismo figadal.

Executivo, Legislativo, Judiciário. Se nenhuma peça funciona como devia, o defeito está no sistema. Nosso estilo de democracia não funcionou, temos que admitir. Esse modelo, baseado no norte-americano, teria de ser trocado. Mantendo-se a democracia, claro, mas de outro tipo. Um rodízio de governantes, como na Suíça. Parlamentares não remunerados talvez não fosse boa ideia... Sei lá. Sei que é preciso mudar.

Mas não vai mudar, se não fizermos nada. Por isso, a extinção do Senado. Vamos tomá-lo como um símbolo. Vamos fechá-lo para sempre e adotar o unicameralismo, que existe em tantas nações.

Como fazer? Assim: não vote para senador nas próximas eleições. Peça a seus familiares, a seus amigos, a seus colegas, peça a quem você encontrar na rua que não vote para senador. Espalhe essa mensagem pela internet, cole adesivos nos vidros do seu carro, grite que você se recusa a votar para senador. Em qualquer senador.

Os senadores dignos, que há senadores dignos, como há homens dignos em todos os três poderes putrefatos, pois esses senadores dignos deveriam tomar a peito a campanha. Deveriam renunciar. Um Cristovam Buarque, um Eduardo Suplicy, eles deveriam subir à tribuna e, num gesto grandioso, desistir do mandato em nome do povo brasileiro. Os nossos senadores, Simon, Paim e Zambiasi, homens sérios, tinham de fazer o mesmo. Que as cadeiras do Rio Grande do Sul fiquem vazias no Senado. Que nenhum gaúcho, nenhum brasileiro vote para senador nas próximas eleições. Para gritar a nossa indignação, vamos fechar aquele lugar. Vamos acabar com os senadores. Ou, pelo menos, cobri-los de vergonha.

David Coimbra, na Zero Hora de 31 de julho.

Rafa

quinta-feira, 23 de abril de 2009

COLUNISTAS QUE RECOMENDAMOS

O carrasco, o machado e o condenado

A posteridade pingou um acento macabro no nome do doutor Guillotin. Teria sido ele o inventor da guilhotina, justamente ele, um médico, de quem se espera a preservação incondicional da vida. Mas Guillotin não inventou a guilhotina. Apenas defendeu com ardor sua utilização nas cerca de três mil execuções da Revolução Francesa. E o fez por caridade, como cabe a um médico, jamais por crueldade.
Até então as execuções eram muito dolorosas para os condenados. No enforcamento, a vítima ficava estrebuchando em agonia por, às vezes, 15, 20 minutos. Ontem mesmo o Sant’Ana lembrou que o carrasco de Tiradentes teve de saltar do patíbulo e se dependurar em seus ombros para aumentar-lhe o peso e assim lhe quebrar o pescoço, senão o homem não morria.
Na decapitação por machado a dor do apenado podia ser ainda maior, porque tudo dependia da habilidade do verdugo. Volta e meia o executor não acertava exatamente no pescoço, mas no lado do queixo, no meio do rosto ou nos ombros da infeliz vítima.
Neste 2009 comemoram-se 500 anos da ascensão ao trono da Inglaterra do rei Henrique VIII. Zero Hora inclusive publicou matéria a respeito, domingo passado. Henrique tornou-se célebre por sua quantidade de esposas (meia dúzia) e por desenvolver o inquietante hábito de enviar para o cadafalso pessoas com as quais desfrutava da maior intimidade, entre elas duas de suas mulheres e dois dos seus secretários pessoais que exerciam a importante função de primeiro-ministro. Eram eles Thomas More, o humanista que escreveu um livro intitulado Utopia, de onde derivaram-se a palavra e a noção de utopia, e Thomas Cromwell, famosa raposa política do século 16. Cromwell caiu em desgraça por ter sugerido ao rei casar-se com uma dama que ele, rei, não conhecia. Um arranjo político, é evidente. Como monsieur Daguerre ainda não havia inventado a fotografia, Henrique pediu que um pintor fizesse o retrato da moça. Pintado o quadro, o rei analisou-o, refletiu, ponderou e terminou por aprovar a donzela. Contratou casamento. Se vivesse em tempos de Internet, Henrique saberia que mesmo as fotos de corpo inteiro são enganadoras e que nada substitui o contato epidérmico. Quando viu a pretendente ao vivo, estremeceu. Era um bagulho de assustar criancinha. Aguentou o casamento por seis meses, ao cabo dos quais separou-se da dama e fez com que Cromwell se separasse de sua cabeça. Como estava (com toda razão!) furioso com o secretário, ordenou que o algoz encarregado de cumprir a pena fosse um jovem inexperiente. O rapaz, decerto nervoso por estar prestes a operar um cliente célebre, só conseguiu decepar Cromwell após três tentativas, o que deve ter sido muito irritante para Cromwell, mas pelo menos deixou bem claro para todo o reino que Henrique VIII não ficava com mulher feia.
A destreza do carrasco era tão fundamental que Ana Bolena, outras das mulheres de Henrique VIII que escalaram os degraus do cadafalso, exigiu que seu executor fosse um certo francês considerado mestre no ofício. Esse francês não empregava o machado vulgar na degola, mas espada, e gabava-se de sempre, sempre!, atingir o pescoço da vítima de forma precisa, piedosa e indolor. E foi desta forma que ele despachou Ana Bolena para as páginas da História. Com um zap.
Lendo esses relatos da História, o momento que me vinha à mente ao pensar na execução da pena de morte era o do pênalti no futebol. Nada mais parecido, no âmbito do esporte. Nada mais capital. Dias atrás, ao assistir à entrevista do Ronaldo Nazario com Marília Gabriela, essa imagem consolidou-se em mim. Ronaldo, um executor frio e experiente, confessou que, na hora do pênalti, ele quase chega a vacilar.
– É um momento especial – admitiu. – Estão lá só você, a bola e o goleiro.
O centroavante, a bola e o goleiro. O algoz, seu instrumento de trabalho e o condenado.
É uma aflição, o pênalti. Quase uma tortura. Por isso, reprovo a paradinha; a bola tocada mansa e debochada, inalcançável ao goleiro; a cavadinha; o escárnio. Reprovo. Pênalti exige solenidade. Mais: pede piedade. Uma execução rápida e indolor é o que de mais humano pode-se pedir na hora de qualquer penalidade máxima. No futebol ou no jogo da vida.

David Coimbra

thunder

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

C'EST LA VIE

Um vídeo impressionante captado pelo fotógrafo Ronaldi Bernardi, de Zero Hora, e veiculado no site do jornal, hoje, mostra um cágado que vive no Parcão, em Porto Alegre, atacando uma pomba e carregando-a para a água.


abaixo algumas fotos que mostram os "melhores momentos", e quem quiser ver a matéria na íntegra, só clicar aqui.

A administradora do parque confirma que somente patos e marrecos são alimentados, portanto os cágados sobrevivem da captura de presas em potencial da área, como as pombas.

Rafa

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

SENSACIONAAAAAAAAAL

Ainda não se sabe se há água, e portanto vida, em Marte. Uma das luas de Saturno parece ter um ambiente propício para a vida orgânica, mas também não é certo. Talvez estejamos mesmo sós neste canto do Universo. É pouco provável que não exista vida em algum lugar das trilhões de galáxias além da nossa, mas estas não nos interessam. Esperamos, isto sim, que haja organismos que cresçam, se desenvolvam, formem civilizações e comecem a jogar futebol em planetas teoricamente acessíveis, para que se possa pensar num campeonato do sistema solar. Senão o Internacional não vai ter mais nada para ganhar!

Luís Fernando Veríssimo, Zero Hora, 08 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

COIMBRA

Coluna do David Coimbra na ZH de hoje.

O doce sangue do outro

Brasileiro adora um velório. Lógico, velórios são importantes, psicologicamente falando. Pois a história da vida de um homem é a história das suas perdas e, sobretudo, de como ele lida com elas. No caso de uma morte, de resto uma perda bastante definitiva, o velório serve para que os vivos se acostumem com o (em geral) infausto ocorrido. É por isso que as pessoas devem passar pelo caixão e olhar para o morto. Para que sua mente registre: ele não fala mais, não se mexe, não respira; ele está morto. E não é por outro motivo que o homem pré-histórico já realizava funerais. A sabedoria ancestral.

Faz-se essa liturgia quando da morte de um ente querido. Um amigo. Um familiar. Ou um personagem público muito admirado. Vide os funerais de Aírton Senna, de Getúlio Vargas e de Tancredo Neves que mobilizaram o Brasil, ou o de Lady Di, que comoveu o planeta via satélite, ou o de Lincoln, que cruzou os Estados Unidos em cima do aço de trilhos de trem.

Certo. Mas como se explica 30 mil pessoas comparecerem ao sepultamento de uma desconhecida, como aquela menina que foi assassinada pelo namorado em São Paulo dias atrás? Aí a distorção nacional. O brasileiro tornou-se um consumidor de tragédias. Nada a ver com o gosto pela crônica policial, pelo mistério, nada disso. Eu mesmo sou um entusiasta da Editoria de Polícia, onde muito trabalhei, e com deleite. Porque, sempre digo, não existe nada mais humano do que um assassinato, e todo assassinato tem uma história interessante. Pode ser uma briga de bar – conte o dia em que a vítima acordou para morrer e que o assassino acordou para matar e, pronto, você tem uma bela página.

Mas o acompanhamento ansioso do enterro de uma vítima ou o consumo sôfrego de certas minúcias da tragédia, como se tem visto, isso foge do fascínio pelo mistério. E a volúpia pela desgraça alheia é tamanha que até o jornal televisivo mais respeitado do país, o Jornal Nacional, entrega-se à tentação de explorá-la. O que me decepciona, eu que sempre fui, e sou, admirador do Jornal Nacional. Há quem justifique que tal se dá devido à luta pela audiência medida minuto a minuto. Mas ainda acredito no jornalismo. Ainda creio que, a médio e longo prazo, o jornalismo sério tem mais audiência do que a apelação.

Enfim. A verdade é que os telejornais estão atendendo a um apelo do consumidor e o que me interessa aqui é saber por que o brasileiro se transformou nesse vampiro de controle remoto. Digo por quê: por causa do vazio. O sujeito atravessa seus dias num emprego monótono e as noites no cárcere de um apartamento de dois quartos dividido com a mulher e os três filhos, ele não sai de casa com medo da violência e não tem dinheiro para viajar, nem ler ele lê porque ninguém o ensinou a gostar de livros, e o pior: ele vive em algum lugar selvagem e árido como São Paulo. Quer dizer: a vida dele não tem sentido. Assim, quando esse triste brasileiro encontra motivo para uma emoção poderosa e inofensiva, ele, de alguma forma, se realiza. Donde, 30 mil pessoas no enterro da menina desconhecida do subúrbio, uma multidão cevando suas próprias emoções rasteiras, tirando fotos do caixão com seus celulares luminosos, chorando, escabelando-se, se desesperando. Vivendo, finalmente. As tragédias de telejornal são a salvação espiritual do brasileiro medíocre.

Vidas vazias. Vazias vidas.

Rafa

domingo, 14 de setembro de 2008

FUI ROUBADO! E AGORA?

Porque este blog também pode se prestar a dar informações úteis em casos de aperto.

Como proceder após seu carro ser furtado em um estacionamento:

> O primeiro passo é registrar o fato em setor responsável pelo estacionamento. É importante que o problema fique escrito em algum formulário ou boletim interno. Se a empresa não tiver, faça você mesmo um registro por escrito e entregue ao responsável.
> Depois, o proprietário do carro deve procurar uma Delegacia da Polícia Civil ou chamar a Brigada Militar para registrar uma ocorrência policial. Isso deve ser feito mesmo que inicialmente o estabelecimento diga que pretende pagar o prejuízo.
> Com o registro do estabelecimento e a ocorrência policial, o recomendado é tentar uma negociação com a empresa.
> Se não for possível a negociação, você pode procurar o Procon de sua cidade para que o órgão tente intermediar um acerto.
> Em caso de insucesso, o caminho é o juizado especial civil, que funciona em todos os fóruns. Para valores de até 20 salários mínimos (R$ 8,3 mil), não é preciso advogado. Desse valor até 40 salários (R$ 16,6 mil), é necessário contratar advogado. Acima de R$ 16,6 mil, a situação deve ser discutida na Justiça comum.

Fonte: Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste).
Tirado de Zero Hora.

Rafaela

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

CAMPANHA DE VACINAÇÃO CONTRA A RUBÉOLA

Pessoal, está rolando a campanha nacional de vacinação para a imunização contra a rubéola, e o objetivo do Ministério da Saúde é erradicar a doença até 2010. Por conta disso, achei importante colocar aqui algumas informações básicas e úteis sobre a vacinação.

O que é a rubéola?

A rubéola é uma doença viral grave, com sintomas como febre baixa, vermelhidão, dores musculares, coriza e tosse. Quando acomete grávidas, especialmente nos primeiros três meses de gestação, pode provocar problemas no bebê como surdez, catarata, malformações cardíacas e baixo peso.

Os homens precisam se vacinar tanto quanto as mulheres?

Antigamente, as mulheres tinham prioridade nas campanhas de vacinação, devido às possíveis complicações durante a gravidez. Agora, os homens fazem parte do público-alvo porque, quando doentes, podem contaminar outras pessoas e estão entre as vítimas preferenciais da rubéola.

Por que a vacinação atinge quem tem entre 20 e 39 anos?

Essa é a faixa etária em que se encontra uma grande parcela de pessoas suscetíveis à doença, já que muitas nunca tiveram rubéola e tampouco foram vacinadas contra a doença.

Quem já teve rubéola ou não sabe deve tomar a vacina?

Sim. Para garantir uma cobertura eficiente, ela é indicada para todas as pessoas na faixa etária indicada – dos 20 aos 39 anos.

Mulheres grávidas podem tomar a dose?

Em caso de gravidez, deve-se adiar a aplicação da vacina para o período após o parto. Mulheres em período fértil não devem engravidar até 30 dias após terem recebido o imunizante.

Há contra-indicações?

Pacientes com antecedente de reação anafilática severa e doenças agudas graves não devem se vacinar.

Onde posso tomar a vacina?

Em postos de saúde e unidades móveis dos municípios brasileiros.

A vacinação é gratuita?

Sim.

A campanha de vacinação vai até dia 12 de setembro.


Informações tiradas de Zero Hora.
Aqui o folder da campanha em PDF.

Rafaela

sexta-feira, 20 de junho de 2008

DAVID COIMBRA

coluna de hoje do Zero Hora, como sempre muito bem escrita, e com um assunto pertinente

Abaixo a felicidade

É que a felicidade é superestimada. Desde Freud isso, embora, claro, Freud não seja culpado.
As pessoas querem ser felizes, ponto. Quando você pergunta para alguém:
- O que você quer para o seu filho?
Essa pessoa invariavelmente responde:
- Quero que ele seja feliz.
Depois, a criança cresce e os pais vão repetindo:
- O importante é que você seja feliz, meu filho. Você está feliz? Você tem que ser feliz.
A felicidade é o fim em si. O objetivo da vida.

Trata-se de uma distorção rasteira. É como alguém dizer que trabalha para ganhar dinheiro. Quem trabalha para ganhar dinheiro provavelmente não ganhará dinheiro com o trabalho. Um teorema simples: ganha dinheiro com o trabalho quem trabalha bem, trabalha bem quem tem prazer com o que faz. Logo, quem tem prazer com o que faz ganha bem. Uma redução, sei, mas é para resumir que servem as reduções.
A felicidade, se promovida a objetivo de vida, tudo o mais fica subordinado a ela. A pessoa luta por sua satisfação, o resto fica em segundo plano. Os outros ficam em segundo plano. Os valores da pessoa são ela mesma. Então, vale tudo para a obtenção da felicidade.
O filho daquele pai que lhe repete que o importante é ser feliz, por exemplo, já crescidinho ele passa em frente ao orelhão e pensa: esse telefone ficaria bem no meu quarto, meus amigos achariam muito engraçado. Aí ele vai lá e arranca o fone. Leva-o para casa, orgulhoso.
E o pai, ele desliza com seu carro pela cidade mastigando um Amor Carioca. Não sabe o que fazer com a embalagem do bombom e conclui: ah, o meu carro é que não vou sujar. Sem vacilar, abre a janela e atira a bolinha de papel no asfalto. A cidade não interessa, porque os outros não interessam.
Esses mesmos personagens, pode chegar um dia em que eles ocupem algum cargo público. Pode ser que um dia lidem com o dinheiro público. O raciocínio deles não mudou, eles ainda acreditam que nada vale mais do que sua própria felicidade. E aquele dinheiro, afinal, é dinheiro de ninguém. Bem como a via pública e o fone do orelhão são de ninguém. Assim, por que não tomá-lo, o dinheiro público, e satisfazer seus desejos e realizar seus sonhos e, enfim, ser feliz?
Os corruptos do Brasil, tanto quanto qualquer egoísta satisfeito que senta ao seu lado no trabalho, eles só querem ser felizes.
Os corruptos brasileiros são uma chaga, mas também são uma bênção. Sobretudo para o gaúcho. O gaúcho acostumou-se a analisar o mundo com uma singeleza comovente. O gaúcho é contra ou a favor, é pelo sim ou pelo não, acha certo ou errado. Não é por acaso que a rivalidade Gre-Nal é assim acérrima. O gaúcho gostaria que a vida fosse um Gre-Nal. Bastaria escolher um lado, lutar contra o lado oposto e, pronto, não seria mais preciso pensar no assunto.
Mas, não. A vida é um pouco mais sofisticada. As carroças atrapalham o trânsito e maltratam os cavalos, mas os carroceiros precisam sobreviver; o MST é violento, mas a questão dos sem-terra tem de ser resolvida; o Brasil depende da agricultura, mas a Amazônia há que ser preservada. Tudo tão complicado... Porém, se há corruptos, o quadro fica mais claro. Pode-se ser contra os corruptos, eleger os corruptos como culpados e dormir tranqüilamente. O problema é quando os valores da sociedade geram a corrupção. Aí fica difícil de identificá-los, os corruptos, porque eles estão em toda parte. Eles estão no meio de nós. E a vida fica complicada de novo.

thunder

domingo, 9 de março de 2008

ARTIGOS QUE RECOMENDAMOS

E por que não recomendar um artigo interessante?
O de hoje é do engenheiro civil Rolf Alrutz, chamado 'Uma Cidade Sem Lixo', publicado no jornal Zero Hora.
O texto é muito oportuno porque viável. Nele, Rolf traça uma cidade fictícia, que pode muito bem vir a se tornar real, onde não existiria mais lixo, onde tudo se encaixa para que os resíduos produzidos por nós sejam reaproveitados completamente. Para que o projeto se desvincule do papel e passe a se tornar realidade, é necessário apenas atitude, da população e principalmente do órgão público. Só clicar na logo:

Rafaela

domingo, 24 de fevereiro de 2008

VIDA DE BICHO

Na sessão Fotos do Leitor da Zero Hora de hoje, o leitor Elíbio Faber mostra fotos de animais estrategicamente posicionados tal como encontram-se na natureza, tendo ao fundo uma chapa de eucatex de fundo azul. São principalmente insetos, mas também tem aranhas e sapos. O recurso utilizado foi a macrofotografia - imagens ampliadas de objetos com detalhe muitas vezes invisíveis a olho nu. Elíbio garante que depois de utilizar os animais, coletados por ele, devolve-os à natureza. As fotos são muito lindas, simples e ao mesmo tempo complexas, tal e qual os animais e a natureza são.mais fotos aqui

Rafaela e thunder

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

VERÍSSIMO

Eu, como fã incondicional do Luis Fernando Veríssimo, indico a crônica dele no jornal Zero Hora de hoje.



Concordo plenamente com a primeira parte do texto. Vale a pena ler.

Rafaela