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sábado, 1 de agosto de 2009

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O injuriado

Estamos novamente em agosto, que rima com... Por favor, não completem. Venho ouvindo isto desde que me conheço por gente e sempre fico indignado. Tá bem, nasci em agosto, é uma indignação em causa própria. Sei que a história registra algumas desgraças neste mês que os romanos dedicaram ao imperador Augusto, incluindo-se aí as duas bombas atômicas, mas todos os meses do ano têm as suas tragédias. É frio por aqui nesta época, isso também é verdade. E julho? Quem não congelou nesta semana que está terminando? Nem por isso ouvi algum detrator dizendo que julho rima com, digamos, entulho, barulho, engulho, embrulho ou qualquer outra palavra depreciativa.

Mas agosto não escapa. Começou com os descobridores desta pátria amada. As mulheres portuguesas não se casavam em agosto, porque era o mês escolhido pelos marinheiros para zarpar à procura de novas terras. Aquelas que se arriscavam a subir ao altar neste oitavo mês do ano arriscavam-se também a ficar sozinhas, sem lua-de-mel e até mesmo sem o maridão, caso a caravela naufragasse. A superstição de não se casar em agosto estendeu-se aos negócios, à mudança de casa e a qualquer coisa muito significativa. Ou se antecipava, ou se adiava. Para completar, um engraçadinho fez a rima e nós, os agostinos, nos danamos.

Já tentei reabilitar agosto algumas vezes, lembrando que neste mês também ocorrem coisas boas, as pessoas se aconchegam, nasce gente charmosa, temos um dia todinho para os pais, há flores que podem ser plantadas nestes dias em que o inverno começa a preparar sua bagagem para sair de cena. Em agosto, por exemplo, planta-se a açucena, que inspirou Thiago de Mello a escrever estes versos lindos: “Quando acariciei o teu dorso,/ campo de trigo dourado,/ minha mão ficou pequena/ como uma flor de açucena/ que delicada desmaia/ sob o peso do orvalho./ Mas meu coração cresceu/ e cantou como um menino/ deslumbrado pelo brilho/ estrelado dos teus olhos”. Os poetas, felizmente, não silenciam em agosto.

O injuriado agosto é, na verdade, um mês de dias luminosos, de azul profundo no céu, de transição serena para a primavera em nosso hemisfério. Este mês que começa hoje pode ser bom ou mau, dependerá do que faremos para preencher os seus 31 dias. Como advogado de defesa, abro com este habeas corpus preventivo na esperança de que os difamadores se contenham, esqueçam as rimas e as superstições. E façam como os navegadores portugueses: procurem descobrir novos mundos em agosto.

Nilson Souza, na página 3 do Zero Hora de hoje

thunder

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