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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

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Uma linda mulher

Com o olhar atarraxado no colo dourado de certa mulher, em certo bar da cidade, meu amigo Vitorinho Gheno proferiu, dias atrás, uma frase que define à perfeição o que há de melhor neste primeiro naco do século 21. Disse-o sussurrado, que o Vitorinho não é homem de arroubos. Ao contrário: fala pouco, quase não se manifesta numa mesa de bar, nem rir ele ri. Mas está lá, observando, os olhos míopes registrando tudo por detrás dos óculos, a mente de arquiteto pondo ordem no mundo, tirando conclusões. Uma delas a que resultou na frase sobre a qual escrevo agora.

É que essa mulher a quem Vitorinho examinava, pulsante de admiração, é uma mulher que já venceu a curva dos 30 e tantos anos de idade, uma mulher que, em outros tempos, seria designada pejorativamente como balzaquiana. Hoje, não. Hoje é uma mulher em pleno exercício da beleza, pronta para haurir do mundo todas as aventuras que o mundo pode propiciar. Foi por isso que Vitorinho falou o que falou. O seguinte:

– A mulher feia está em extinção.

Olhei para o Vitorinho e disse:

– É isso mesmo, Vitorinho! É isso mesmo!

E é. Hoje as mulheres dispõem de todos os artifícios cosméticos, de adereços sutis, de roupas provocantes, e hoje elas comem melhor, dormem melhor, fazem exercícios, besuntam-se de cremes. Há cremes para cada polegada do corpo sinuoso de uma mulher. Para o cotovelo. Uma mulher que amacia o cotovelo a creme é de uma sensualidade perturbadora. Sinal de que ela está atenta a cada minúcia do próprio corpo. Um homem jamais se preocupa com o seu cotovelo. O cotovelo é insensível. Você pode levantar uma pessoa pelas pelancas dos cotovelos e ela não sentirá nada, sabia? Mas ninguém fará isso. Ninguém liga para o cotovelo. A não ser uma bela mulher.

Uma bela mulher dá importância a tudo em si mesma. Quantas horas por dia ela consome na construção da própria beleza? Quanto sacrifício ela faz? Dietas à base de vegetais insossos, levantamento de peso, depilação com cera quente – sim, as mulheres são capazes de deixar imberbes, lisas e tenras as partes mais recônditas e sensíveis de seus corpos.

Isso tudo, essa disposição, essa abnegação, esse denodo, isso tem de ser valorizado. Quando as pessoas elogiam aquela modelo que se deixou ser fotografada com o ventre flácido exposto ou quando a Playboy anuncia que fará um ensaio com uma mais ou menos, como parece que fará nos próximos dias, quando tal acontece, o esforço diário, secular e universal das belas mulheres é vilmente desprezado.

Trata-se de um desvario. E de uma desinteligência. Já me embeveci diante do Duomo de Milão, do Moisés de Michelangelo e das Cataratas do Iguaçu. Por que não me emocionaria ao olhar para um linda mulher e deparar com seus olhos d’água, suas pernas de louça, seus cabelos reluzentes? Sobretudo se houver ali, além da dádiva da Natureza, como são as Cataratas do Iguaçu, a obra da Civilização, como são o Moisés e o Duomo.

Nada contra a modelo de barriga mole ou a média sem roupa da Playboy. Só que elas também não precisam ser festejadas. Nenhum preconceito contra as feias assumidas. Mas prefiro as bonitas convictas.

David Coimbra, na página 2 do Zero Hora de hoje

thunder

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