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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

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Dramas da evolução

A sua vida podia ser diferente. Olhe bem para a sua mulher. Observe a carne pendente sob os braços dela. Veja com que sofreguidão ela come aquele quindim. Ela está engordando a cada dia.

Pense nas manhãs em que ela está inspirada para falar. Ela fala. Falafalafalafala. E mais: fala.

Lembre-se das vezes em que ela o obrigou a ir a aniversários de crianças, a jantares na casa da tia-avó dela. Lembre-se dos Natais! Como você sofre a cada Natal, tendo que contentar a sua família e a família dela.

Não precisava ser assim. Tornou-se assim por uma opção evolutiva. Quer prova? Recuemos um tantinho no tempo. Dois milhões de anos. Naquela época, um hominídeo de um metro e trinta de altura zanzava serelepe pelas savanas da África. Era o homo habilis, seu antepassado. O homo habilis andava sobre duas pernas, como você, e tinha um cérebro bem maior do que os cérebros de todos os outros animais, mas não tão grande quanto o seu. Para falar, como você fala, para ler a coluna do Wianey Carlet, como você lê, e para inventar instrumentos úteis, como o google, o controle remoto e o biquíni com lacinho, o homem precisava de um cérebro maior.

Foi neste ponto que a evolução chegou a um impasse.

Aconteceu o seguinte:

A abertura pela qual os nenês passam ao nascer, situada, como sabemos, no entrepernas das fêmeas da espécie, essa abertura tem de ser maior do que a cabeça do recém-nascido, senão o recém-nascido entala, o que é chato. Com o passar dos milhões de anos sobre a Terra, o cérebro do ser humano foi aumentando e, para acomodá-lo, a cabeça também foi aumentando. Logo, a abertura por onde passam os nenês também deveria aumentar. Só que, se aumentasse até ficar do tamanho de um cérebro adulto moderno, como, por exemplo, o cérebro da Carla Perez, a abertura por onde passam os nenês teria que se alargar muito. O afastamento da pélvis prejudicaria a nossa elegante postura ereta, teríamos de nos curvar. Em resumo, cair de quatro.

Eis o drama: para dispor um cérebro grande, capaz de bolar o piercing no umbigo, o homem teria de deixar de ser bípede. Mas, se deixasse de ser bípede, não poderia manusear instrumentos ou digitar o nome da Megan Fox no youtube.

E agora?

A Natureza resolveu o problema de uma forma muito engenhosa. Assim: ao nascer, o cérebro dos humanos ainda não tem o tamanho padrão. Logo, a cabeça do nenê é pequena, e passa por onde há de passar. Mas, nos anos seguintes, o cérebro cresce como o de nenhum outro animal, torna-se quatro vezes maior do que o volume que tinha no dia do nascimento. A desvantagem deste sistema é que um nenê bípede, que gasta a maior parcela da sua energia no crescimento do cérebro, não nasce com a desenvoltura de um quadrúpede. Um cavalo, tipo o Tragueado ou o Camelo Voador, que correram no Cristal esta semana, um cavalo como eles nasce, equilibra-se e sai trotando com a energia de um... bem, de um cavalo. Já um nenê humano, como o meu Pocolino, necessita de pelo menos seis ou sete anos de cuidados, atenções e mamadeira quentinha.

Foi uma troca, portanto. Uma escolha da Evolução. Que acarretou outra questão: como ficou tão complicado criar seus filhotes, a fêmea humana teve de requisitar a ajuda do macho. Para convencer o macho a auxiliá-la, ela lhe ofereceu o que ele queria: sexo. A fêmea humana, desta maneira, é a única que tem orgasmos o mês inteiro, desde que competentemente estimulada, é claro; é também a única que pode copular todos os dias, sem a necessidade de entrar no cio; e ainda é a única que usa minissaia e botas. Tudo isso para que o macho não se aventure por aí com outras fêmeas, mantenha-se com ela e ajude a cuidar dos pocolinos.

Logo, sua mulher aí ao lado, falando sem parar e engordando inexoravelmente, ela não tinha de estar aí. Você poderia ter um cérebro menor e viver caçando, pescando e coletando alegremente com seus amigos, trocando de fêmeas como quem troca de caverna, divertindo-se pela velha e aprazível savana africana. Mas, não. Você quis evoluir. Agora está em casa, tendo que aguentar o matrimônio e o campeonato de pontos corridos. Bem feito pra você.

David Coimbra, impagável, na página 39 do Zero Hora de hoje

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