A tal história que já contei várias vezes surgiu-me de novo, mas de um modo diferente. Vou contá-la desse modo.
Conta essa história que um padre estava a receber centenas de fiéis numa missa onde os tais fiéis pediam chuva. Fazia uma seca danada, não havia mais plantações, terra rachada, água escassa, uma tragédia. E todos na comunidade, não vendo outra solução, optaram por pedir chuva em oração. E lá estavam todos na igreja, rezando, pedindo que chovesse.
A certa altura da missa, o padre interrompeu o sermão e questionou a todos:
— Vocês não vieram pedir por chuva em oração? Pois muito bem, e onde estão, então, os guarda-chuvas?
Ninguém tinha levado guarda-chuva.
O sentido dessa história é fazer ver as pessoas que quem tem fé já sai de casa com o guarda-chuva debaixo do braço, sabe que vai chover, afinal, orou por isso…
Que nada, as pessoas não têm uma nesga de fé que seja. Tanto é verdade que aí estão as promessas, as oferendas, as “chantagens” com os santos, com Deus. Ou você já não ouviu alguém prometer uma vela à santinha se for atendido numa graça pedida? Por que não acende a vela antes, não a vela do pedido, mas a vela do agradecimento. Quem agradece antes de receber tem fé. Depois, não tem… As pessoas não creem nem nos santos aos quais oram…
O que me incomoda é essa fé verbal das pessoas, dizem-se de fé, vão à igreja, fazem o sinal da cruz, cruzinha diante dos lábios, bobagens, uma infinidade de bobagens.
Quem crê em Deus, e tem que ser em Deus, vive na paz, vive no bem, pensa no bem, age no bem, é pessoa confiável. Apresente-me, leitora, por favor, uma pessoa dessas que vou sugerir à produção do Faustão para uma entrevista.
O ser humano, no fundo, no fundo, sabe que vive no vazio, que tudo foi “inventado” por ele mesmo, mas esquece que dentro de cada um de nós todos há um formidável poder, o poder da fé em si mesmo. O mais é figuração de ficcionistas…
Coluna extraída do blog de Luiz Carlos Prates, 24/06/10.