Continuando o
post anterior, hoje vou comentar um pouco sobre as situações do cotidiano que mais me marcaram em Buenos Aires e que me fizeram, direta ou indiretamente, fazer uma comparação com o Brasil.
- Em Buenos Aires, existem os táxis e os remises. O preço do táxi, em comparação com o Brasil, é irrisório. Super barato mesmo, dá pra ir pra vários lugares sem sentir o bolso pesar tanto (ou ficar mais leve). Por ser tão mais barato que o Brasil, imaginei que o preço do combustível também fosse tão barato quanto, mas no único posto de gasolina que vi dentro da cidade (incrível como não se vê postos), o preço da gasolina comum girava em torno de R$ 2 reais. OK, mais barata que aqui, mas nem tanto assim. Uma coisa que impressionou bastante foi a sujeira dentro dos táxis, de barro a cheiro muito ruim, além do que parece que eles carregam a casa dentro do carro, até varal no porta-malas a gente encontrou. Isso tanto em Buenos Aires como em La Plata. Já os remises, que não são identificados como táxis (parecem carros normais) custam aproximadamente o dobro do preço do táxi pretinho, e pelo que entendi, isso acontece porque eles precisam voltar para o ponto de partida para pegar outro cliente, ou seja, não podem carregar pessoas no caminho da volta. Esses já são mais limpinhos, acho que por ser serviço particular e tal. Cuidado para não cair na cilada de chegar no aeroporto cheio de malas e pegar direto um remis, como aconteceu com a gente. Demos o endereço, pagamos o valor antecipadamente, e estávamos achando tudo muito organizado e nem tão barato como diziam, mas só depois descobrimos que aquele não era um táxi normal. Mas tudo bem, com a quantidade de malas que tínhamos só um carro grande para nos levar, e até onde vimos, os táxis pretos eram todos pequenos. Mas, se estiver sozinho, opte rapidamente pelos táxis pretos (e amarelos).
- Continuando a lista de serviços baratos em Buenos Aires, um dos que mais me impressionou foi o de telefonia. Nunca imaginei que ligar para o Brasil fosse tão barato. Posso até afirmar que ligar da Argentina para o Brasil, tanto para fixo quanto para celular, é mais barato do que ligar para telefones dentro do mesmo estado no Brasil, que dirá para estados diferentes. Isso me deixou realmente indignada. Eu já sabia que o sistema de telefonia do Brasil era super caro, mas não imaginei que a diferença com outro país fosse tanta. Na primeira ligação que fizemos pra casa, falamos rapidinho, chegando a pensar que o marcador que estava mostrando o valor estivesse errado ou fosse convertido depois a um valor maior, mas que nada, era aquilo mesmo. Dá pra ficar tranquilamente falando uma meia hora e isso não vai custar nem cinco reais. Não vale nem a pena habilitar o celular pra funcionar lá e correr o risco de ficar pagando roaming, chegar no Brasil e quase morrer quando vir a conta.
- Pelo que percebi, a conta de água também é bem mais barata que no Brasil, sendo que a água da torneira é muito potável e gostosa. No mercado, a garrafa de água de 2 litros não custa nem R$ 1 real.
- E já que estou falando de líquidos, o melhor preço disparado deste gênero é o de um líquido também bastante precioso, a cerveja. Incrível o preço das cervejas no supermercado.(Carrefour). Garrafas de 1 litro de Quilmes, Heineken e Stella Artois não custando nem R$ 3 reais. Pack com 6 long necks Heineken também não chegavam a R$ 3. Era de ficar babando no mercado, dava vontade de levar tudo pra casa. Novamente, deu raiva do preço das cervejas no Brasil, e a Brahma na Argentina também estava muito barata. Mas, enquanto o preço das cervejas no mercado era muito barato, o mesmo não posso dizer do preço em alguns restaurante (alguns). Chegamos a pagar $ 40 pesos argentinos em uma Quilmes 1 litro no primeiro dia, o que nos impressionou, tanto que meu irmão até comentou que os argentinos deviam beber pouca cerveja então (tadinhos), e no outro dia encontramos a mesma por $ 4 pesos no mercado. No geral, nos outros restaurantes, ela gira em torno de $ 20 pesos.
- O preço da energia elétrica, pelo que pude perceber, também é muito barato. A foto abaixo fala por si só.
- Voltando à questão transporte, o metrô de Buenos Aires, inaugurando em 1913, é bastante eficiente e também custa super pouco. O preço de uma passagem é de $ 1,10 pesos, aproximadamente R$ 0,55 centavos, e as linhas são interconectadas, ou seja, paga-se uma passagem e pode pegar quantas linhas quiser, mais ou menos como o transporte coletivo aqui de Curitiba. Mas, se sair pra rua, quando volta é outra passagem, claro. Tava achando tão legal andar de metrô pra lá e pra cá (nunca tinha andado), e eis que é chegado o único ponto negativo da viagem: minha mãe foi assaltada na última noite, justamente na hora que deu um furdunço de gente, lógico, e ela com sacolas nas mãos não pôde cuidar com 100% de esmero de sua bolsa. Pra nós, ainda é quase incompreensível, pois meu tio estava colado nela, de olho em tudo, mas mesmo assim, quando descemos no ponto, a bolsa estava vazia. Eu não vi nada pois estava na frente, mas certamente foi serviço de profissa. Fizeram festinha dentro da bolsa, literalmente. Agora imagine o transtorno, era nossa última noite lá e na manhã seguinte estava marcado nosso vôo de retorno ao Brasil, e minha mãe já sem documento algum. Ficamos mais umas três horas andando de metrô pra achar a Comissaria de Denúncia (a polícia de lá) e então fazer um Boletim de Ocorrência, para no outro dia cedinho bater ponto na frente do Consulado do Brasil. Ainda bem que as pessoas que estavam na fila deixaram minha mãe passar na frente, compadecidos com a situação. No final deu tudo certo, mas ficou um aperto no peito gigantesco, que foi expelido em forma de choro no aeroporto de Porto Alegre. Sim, sou sentimental, mas só isso poderia me aliviar. A parte mais chata ainda vem agora pra minha mãe, com o processo de refazer todos os documentos e a burocracia que isso envolve. Portanto, fica a dica: tenha 4, 6, 8 olhos no metrô de Buenos Aires, se for possível, e até mesmo nas ruas. Logo depois do fato, a gente viu na televisão que vários brasileiros tinham sido assaltados lá no mesmo dia. Parece que é muito frequente. Uma pena. A foto abaixo está ruim, mas ainda assim a única prestável.
- E pra fechar, um fato que me marcou bastante no dia-a-dia, percebendo as pessoas na rua, prestando atenção em seus jeitos de caminhar, de agir, de comer, de beber, de fumar, até mesmo de pensar, foi a intensidade de seus olhares e movimentos. Os argentinos são muito intensos, parecem ter uma melancolia permanente, assim como a tem o tango e as paisagens da cidade, e creio que isso foi uma das condições para que eu tivesse me sentido tão bem na cidade, afinal, pessoas intensas são interessantes. Nada de superficialidade. E essa intensidade é refletida na revolta da população com o que não tá bom, com o que não lhes agrada. A cidade inteira é coberta de faixas e cartazes de indignação e protesto, todo dia podia-se ver pessoas protestando nas ruas, exigindo melhores condições, exigindo seus direitos, exigindo o fim da impunidade. A cidade grita por justiça em todos os seus poros. No Brasil, isso não se vê mais, mesmo com o preço exorbitante da luz, água, telefone, transporte e todo o resto. Impostos e mais impostos. No Brasil, as pessoas não vão às ruas. A impressão que ficou marcada em mim é de que o brasileiro é um povo egoísta, do tipo, se não me atinge diretamente, se não dói no meu, não to nem aí, bem ao contrário do argentino, que me pareceu ser um povo muito unido. Aí que tá a diferença maior. E mesmo com os serviços básicos fornecidos à população tendo uma diferença tão grande de valor entre lá e aqui, o povo lá está bastante descontente com o governo da Cristina Kirchner, pelo que pude perceber, principalmente na conversa com taxistas. Falta coragem aos brasileiros. Falta parar de se diminuir e exigir o melhor.
Por nem tudo isso e por tudo isso, minha vontade de voltar pra lá é imensa. Não vejo a hora de retornar.
Rafa