Quem não pula quer tarifa
A primeira impressão que tive ao acompanhar as manifestações que estudantes estão fazendo desde que os preços das passagens aumentaram na Ilha foi lembrar-me das tantas passeatas que participei quando era estudante. A segunda foi pensar no motivo pelo qual apenas estudantes estavam na passeata. A terceira foi perceber que tem muito, mas muito mesmo, policial na Ilha. Ao contrário da sensação de segurança que seria normal ter diante de tantos homens e mulheres armados, tive foi é muito medo. Ôpa, alguma coisa aqui está errada, porque se eu pago bastante imposto para ter segurança, e quando me deparo com a sua represetnação fico com medo, é sinal de que a ordem das coisas está mudando.
Só mesmo um incauto não entenderia que o aparato policial, ideologicamente, não foi criado para dar segurança aos que o sustentam, mas, pelo contrário, para dar segurança ao próprio Estado, principalmente contra aqueles que o contestam. Se a polícia existisse mesmo para nos dar segurança ela daria, estaria nas ruas, teria postos policiais em cada esquina de cada bairro (e não é mais desculpa dizer que não tem contingente, porque eu vi), mas não tem. Ela aparece apenas quando o Estado sente-se ameaçado, quando o Estado não tem mais inteligência para argumentar, e quando ele nos rouba, seja em tarifaços, seja ajudando empresas amigas, seja superfaturando obras, seja, enfim, nos sacaneando nas multas de trânsito ou nos altos salários dos políticos e cargos comissionados.
Mais de 4 mil pessoas gritavam “quem não pula quer tarifa”, pedindo para que a população (afinal, só estudante pega ônibus?) descesse dos prédios e engrossasse a passeata. Mas adultos são medrosos, preferem ser vilipendiados pelo Estado a dar a cara numa passeata, prefere ficar em casa assistindo novela a não reclamar da falta de policiais quando mais precisa, porque quando seu carro é roubado, quando sua casa é roubada, quando matam seu parente, ainda colocam a culpa no ladrão. Mas os ladrões de verdade estão protegidos pela lei que eles mesmos criaram e ainda têm a polícia para protegê-los de nós.
Fábio Brüggemann, no DC de hoje.
Rafa