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sexta-feira, 2 de abril de 2010

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overdose de bons textos

Jogadores de escova

Éóbvio que ver Big Brother emburrece. Já vi gente ficando ainda mais imbecil depois de assistir a uma edição. Logo, justificado está o meu preconceito contra esse programa de TV. Além do mais, sou um homem que ceva com carinho seus preconceitos. Portanto, alinho-me entre os que jamais assistiram e jamais assistirão a qualquer episódio de Big Brother não por falta de tempo; por gosto. Mesmo assim, compreendo as pessoas que espocaram rojões ou fizeram buzinaço festejando a vitória do “Gaúcho Dourado”, bem como compreendo as pessoas que emigraram do Piauí para acompanhar o julgamento do malfadado casal Nardoni, dias atrás. São pessoas com vidas desinteressantes. Quando elas morrerem, o obituário registrará:

“Torcia para o São José. Gostava de assar churrasco para a família aos domingos. Jogava bem escova”.

E é tudo.

É para essas pessoas que são feitos certos programas de TV e que se desenvolveu a teoria de que existe vida após a morte.

Eu, exatamente por não crer na vida após a morte, não assisto ao BBB. Não cultivo ilusões acerca da minha insignificância, conformo-me com ela, recolho-me à mesmice dos dias sem glória, sem mapas do tesouro, sem loiras douradas ansiosas para partilhar comigo noites de loucuras inenarráveis até o amanhecer. Não, não, sei bem que a vida não tem mistérios.

Porém, sempre há um porém, tive de me deter ante a entrevista da mãe do Gaúcho Dourado, indagorinha. Rose é seu nome, e ela se apresenta como “escritora, coreógrafa, astróloga, música e roteirista”, avisa que aceita posar nua para revistas masculinas, desde que em defesa de “alguma causa como os animais ou o meio ambiente”, e comemora a vitória do rebento porque, quando pensou em fazer um filho, queria que ele fosse “uma celebridade maravilhosa, não um zero à esquerda”.

Apesar do caráter elucidativo de todas essas informações prestadas pela astróloga, coreógrafa etc, não foi nenhuma delas que me despertou a atenção, e sim uma frase de diamante expelida em meio à entrevista. Era a mãe típica se manifestando acerca do filho. Desta forma:

“Dourado é um exemplo para o Brasil, só não gosto dos arrotos”.

É claro que toda mãe acha que o filho é um exemplo para o seu país. Posso imaginar a mãe de Freud divagando:

“Sig é um exemplo para a Áustria”.

Ou a de Beethoven:

“Lud é um exemplo para a Alemanha”.

Mas, por mais que açule a imaginação, não consigo vê-las fazendo qualquer ressalva a respeito dos gases emitidos pelos filhos em público. Por que isso? Talvez porque as mães germânicas não sejam tão sinceras quanto as brasileiras, talvez porque os filhos germânicos não sejam tão gastricamente liberais quanto os brasileiros, talvez por um tanto de tudo isso, mas acho que não, acho que é por outro motivo. É que a mãe do Gaúcho Dourado tem razão: ele é, realmente, um exemplo para o Brasil.

David Coimbra, na página 2 do Zero Hora de hoje

thunder

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