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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

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Adúlteros e sonegadores

Conheço um cara que trai a mulher. Sério. Um adúltero! Anda por aí, entre nós.

Conheço outro que freqüenta lupanares. Sabe lupanar? Casa de tolerância, conventilho, randevu, alcouce. Prostíbulo, enfim. Ele vai a esses lugares. Quem olha para o gaiato, não diz. Homem sério, conversa com toda a gente, usa gravata.

Tem mais um que sei que ele sonega imposto de renda. Apresenta notas falsas para o fisco, inventa dependentes e, que coisa, não declara seus verdadeiros rendimentos.

Não cessa aí a lista de quase meliantes das minhas relações. Tenho dois conhecidos que se embriagam em festas. E um deles... já fumou maconha.

Você não vai acreditar, mas esses homens não se movimentam pela cidade atrás de máscaras pretas, nem dentro de macacões listrados. São iguais a você, que não é quase meliante. Você, é claro, nunca traiu uma mulher, nunca foi a um bordel, nunca enganou o imposto de renda e nunca bebeu uma dose que fizesse tremer o ponteiro do bafômetro. Você, não.

Como se explica, então, o comportamento desses meus lastimáveis conhecidos? Por que a carne deles é fraca e eles não conseguem ser como você?

Alegam que a sociedade, volta e meia, é exigente demais. Talvez tenham razão. Pois o que trai a mulher, não é que ele cultive teúdas e manteúdas, não é que despreze a mulher dele, não é que seja inimigo do matrimônio; ele apenas não é monógamo. Considera monogamia um quase celibato, o que faz dele um quase meliante.

Já o que é adepto de sexo a soldo, não se pode dizer que seja um maníaco sexual. Mas, para ele, às vezes o sexo é tão-somente divertimento. Só às vezes, lógico.

O sonegador, esse garante que, mesmo com as omissões, são os impostos que lhe arrancam a maior parte do salário.

E, finalmente, os bebedores: gostam de beber, mas não dirigem embriagados, nem batem na mulher. No máximo, repetem para os amigos que os consideram pra caramba.

Será que o problema não é certa hipocrisia da sociedade? Quando, por exemplo, Silvio Berlusconi é vilipendiado em todo o planeta por ter se relacionado com prostitutas, não seria o caso de se perguntar o que é que tem? Afinal, nem mulher ele tem mais. O que ele faz de errado? A Itália será prejudicada? Ele está pagando as mulheres com o dinheiro do Estado?

Não que o Berlusconi seja uma bandeirante de inocência, mas, neste caso, será que não há hipocrisia?

Essa gana moralista a assaltar a Itália, justamente a Itália, um tanto dessa gana já assola o Brasil. Natural: alguns abusam tanto da tolerância que o país se torna intolerante. Seria a mais nefasta consequência das ações inconsequentes dos brasileiros: o Brasil perder o seu traço mais humano, perder a qualidade que o distingue dos demais povos. Perder seu caráter tolerante. O brasileiro, de um povo leve, se tornaria um povo duro. E, o pior de tudo, triste.

***

Não vamos mais tolerar aqueles que estão nos tornando intolerantes. Vamos começar por atingi-los. Não vote para senador!

David Coimbra, edição de hoje da Zero Hora.

Rafa

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