Um livro inútil
Na lista dos livros mais lidos, um deles me chateia: 100 Maneiras de Motivar as Pessoas. Nada mais inútil.
Ninguém motiva ninguém. Motivação é uma porta que só se abre por dentro, só a própria pessoa tem a chave para abri-la. Chego a ficar vermelho de dizer um truísmo desses, paciência.
O livro, todavia, tem razão de ser. De fato, o que mais há pelas esquinas são pessoas desnorteadas, sem um rumo gerado por um forte motivo. São pessoas que saem de casa para o trabalho e voltam do trabalho iguais. Bocejos, amuos, desânimos e nada que justifique essa exaustiva jornada de todos os dias senão o esquálido salário.
Jovens cansam pela apatia. Raros os que têm um projeto de vida. Hoje, o que mais querem, quando querem, é passar num concurso, isto é, amarrar na sombra o burrinho do comodismo. Só querem salário garantido no fim do mês, em troca, é claro, de nada ou de muito pouco. Ambição saudável, um sonho de vida? Isso é para otários, pensam os otários...
Casamentos sem ânimo, convivências insuportáveis, casais vazios, sem sonhos nem projetos. Hoje, sobre o que mais lutam os casais são por externidades do ter, nada do ser, tudo pelo aparecer.
Motivação é um fogo que crepita no ventre anímico da pessoa, ninguém o assopra senão a própria pessoa, é um fervor que faz de seres comuns seres especiais, vencedores. Não importa no que seja. O lutador motivado crê no objeto de sua luta, vive por ele, é feliz com ele.
São muito raras essas pessoas, daí que o livro 100 Maneiras de Motivar as Pessoas passa a ser justificado. Claro, de uma justificativa comercial, diante de tantos e tantos milhões de seres sem um propósito.
Ou você, leitora, conhece alguma pessoa, uma de suas amigas, por exemplo, que ande incendiada por um propósito? Lutar para casar com o fulano ou com o beltrano não vale, isso é coisinha de gente miúda.
Motivação tem que ser um incêndio interno de ordem pessoal e por algo que tenha um propósito da “eternidade”.
Na Argentina, andaram perguntando às gurias o que queriam ser na vida. Responderam que magras, puft. E os guris, o que responderiam? Talvez respondessem que “se dar bem”... uma porta aberta para todas as possibilidades sujas da vida.
Dentre todos os jovens profissionais que conheço, não conheço um que esteja a arder por um sonho. Ah, sim, e a sua motivação, qual é?
Luiz Carlos Prates, no Diário Catarinense de hoje!
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