Desenhe um círculo
Pegue um lápis, leitora. Sim, o leitor, também. Um lápis. Claro, pode ser uma caneta, um pedaço de carvão, um pedaço de giz, o que for. Agora faça um círculo sobre uma folha de papel, ou onde quiser. Fez?
Quanto mais perfeito tiver sido esse círculo que você fez, menos feliz você será... Explico. Nós todos somos círculos, não nos damos conta disso. Vivemos dando voltas sobre nós mesmos, numa mesmice enfadonha, numa mesmice de círculo. Não há nada mais enfadonho na vida que andar em círculos, aliás, não é de hoje que se sabe disso e que se diz isso. O círculo, todavia, é a zona de confortos, são os automatismos, vamos nos repetindo sempre e sempre e sem nos darmos conta de que vem desses círculos a nossa angústia vital e os nossos desesperos na vida... Se desespero for uma palavra muito forte, usemos outra: cansaço. Cansaço fica melhor, ainda que a vida não melhore.
Somos círculos no trabalho, por exemplo. Vamos fazendo a mesma coisa do mesmo jeito, sempre e sempre por igual, e queremos ser elogiados, promovidos, aumentados no salário...
Em casa, para nós e para elas, o círculo da mesmice, em tudo, e mais que tudo na cama... Engraçado, e vivemos pensando que somos criativos. O diacho é que não estamos errados, somos, sim, formidavelmente criativos. Não nascemos para ser círculos, mas para ser retas, retas no rumo do infinito.
Ninguém sabe dos seus limites, nossa criatividade não se mede. No entanto, somos pífios, vivemos em círculos acanhados, com medo, medo de tudo, medo, mais do que tudo, de ser uma linha reta no rumo do infinito.
A maldita zona de conforto, gerada pelo medo, muito mais do que pelo comodismo, nos faz medíocres. E na mediocridade, nada melhor do que andar em círculos, fosse ainda uma espiral, sim, valeria a pena, círculos fechados é que são a encrenca...
O sujeito levanta da cadeira e se propõe, por exemplo, a arriscar na loteria, afinal, quem não arrisca não petisca, não é como dizem lá no galpão? Pois então. O sujeito, como disse, levanta da cadeira e decide fazer uma fezinha na loteria. Ao dar dois passos, pensa: “Muito difícil ganhar, melhor é ficar com estes pilas no bolso que jogá-los fora numa aposta sem graça nem chances...” E o sujeito aborta a linha reta do sucesso, fica no círculo do medo, da acanhada conveniência. Em tudo somos assim, ao menos na grande maioria.
Quem ousar ser diferente no amor, no trabalho, nas apostas da vida, ah, esse sairá do círculo dos comodismos e entrará na reta das grande chegadas. E chegará vencedor.
Luiz Carlos Prates, no Diário Catarinense de hoje.
Rafa
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